A responsabilidade pode ser repartida por políticos, meios de comunicação e jornalistas, já que, defendeu Sofia Branco, quem ouvimos e a forma como ouvimos aqueles que entrevistamos pode fazer a diferença. Mas importa também ter em conta que a precarização é um dos incentivos ao discurso do ódio.
José Manuel Pureza identificou três aspetos que têm vindo a contribuir para o problema: a transformação tecnológica; a utilização das redes sociais como objeto de trabalho jornalístico e a imagem dos políticos, mais empenhados na competição do que no debate de ideias.[/vc_column_text][vc_empty_space][vc_video link=”https://youtu.be/UzpeQn6UCTk” el_width=”80″ align=”center”][vc_empty_space][vc_column_text]O primeiro problema tem levado à partilha de visões momentâneas e irrefletidas que se tornam facilmente de grande alcance. Uma nova realidade a exigir atenção, já que, alerta Pureza, um Youtuber consegue hoje mais visualizações do que um canal aberto de televisão. Ao mesmo tempo que a imprensa tradicional se mostra demasiado fragilizada para responder ao problema.
Para isso tem também contribuído a apologia da desregulação e a ideia de que pode haver liberdades individuais sem limites. «Sem filtro», diz Pureza, numa altura em que o papel de intermediação do jornalismo tem vindo a perder peso.
O deputado deixa a questão: «Podem os jornalistas inverter esta marcha?» A missão está hoje muitas vezes minada pela ideia de que a imparcialidade do jornalista o obriga a não fazer nada perante o discurso do ódio. Por isso, defende José Manuel Pureza, urge rebater a confusão entre objetividade e neutralidade, já que o neutro tem vindo a dar voz à injustiça.
A investigadora Marisa Torres da Silva alertou para as ambiguidades das leis existentes, chegando mesmo às decisões dos tribunais europeus.
O discurso de ódio, relacionado com violência ou orientação sexual, tem vindo a ser alimentado nas caixas de comentários dos sítios de notícias, onde não há geralmente moderação. Uma realidade que importa modificar.
Lembrando que a liberdade de expressão não é um direito absoluto, Marisa Torres da Silva aponta como soluções a educação para os media e uma auto-regulação mais interventiva.
O representante do Parlamento Europeu, Jesús Carmona, recordou as ameaças externas e internas sobre as eleições europeias que acontecerão dentro de menos de cem dias. Entre essas ameaças estão as notícias falsificadas, em parte alimentadas pela Rússia. Mas também o crescimento dos populismos dentro da própria União, com países como a Polónia e a Hungria a tenderem para nacionalismos extremos.
Em relação às notícias falsificadas, Carmona revelou que o Parlamento Europeu tem atualmente uma unidade especial que permitiu já retirar textos de incentivo ao discurso do ódio em 80% dos casos denunciados. Para responder ao problema foi também criado um código de conduta voluntário para os meios de comunicação, que, disse o interveniente espanhol, «está já a produzir efeitos».
pesar de todos os problemas, Carmona acredita que os cidadãos europeus estão hoje mais alerta para a necessidade de participarem em eleições como forma de combater o racismo, a xenofobia e o discurso de ódio. Problemas que se combatem com bom jornalismo.
A jornalista Luzia Moniz pôs o dedo na ferida no que toca a preconceitos ao notar que estava ali por se tratar de um debate que envolvia o tema do racismo, porque se fosse simplesmente sobre o futuro do jornalismo dificilmente teria sido convidada.
Alertando que parte da população portuguesa não tem representação em programas televisivos e que os emigrantes da Europa não podem votar nas eleições europeias, a jornalista lembra que esta falta de diversidade dificulta a construção de uma Europa com menos ódio. Até porque, alerta, a «imparcialidade é um exercício». Que é preciso treinar e conquistar a cada dia.
Este foi um dos debates organizados pelo Sindicato dos Jornalistas sobre o papel da comunicação social na proteção da democracia e na eliminação do discurso de ódio. Uma iniciativa inserida num projecto do SJ subvencionado pelo Parlamento Europeu, com o objetivo de envolver jornalistas e estudantes de Jornalismo e Comunicação no debate sobre a Europa.[/vc_column_text][vc_single_image image=”906″ img_size=”large” add_caption=”yes” alignment=”center” qode_css_animation=””][vc_empty_space height=”52px”][/vc_column][/vc_row]