«Um sindicato pela dignidade»

Finalmente, na edição de 31 de Março, o Público deu à estampa a carta que o presidente do Sindicato dos Jornalistas, Alfredo Maia, enviara em resposta ao editorial «O Sindicato Corporativo», de José Manuel Fernandes, e onde se critica também a forma incorrecta como foi titulada a notícia do comunicado do SJ que deu origem à polémica.

O director do Público deu ao Sindicato dos Jornalistas a honra de um editorial. Não para sublinhar a importância de uma iniciativa que há multo se impunha, mas para passar ao ataque. Chamou- nos sindicado corporativo e reaccionário. Parece que é o que se chama agora a uma organização que defende direitos – os dos que nela estão inscritos (e são muitos, ao contrário do que presume José Manuel Fernandes) e os daqueles que um dia estarão (e todos os dias este Sindicato recebe novos associados). Há patrões que nos chamam fundamentalistas. Preferimos considerar que honramos compromissos com a classe.

Consideramos que estamos no caminho certo, mas não temos uma posição fechada. Por definição e por prática comprovada, somos uma organização democrática e aberta. Por isso, terminávamos a circular- ofício sobre a presença de estudantes nas redacções com a renovação da nossa disponibilidade para debater com as empresas, as universidades e as escolas de jornalismo e comunicação social a opinião que temos sobre as formas de enriquecer esse período.

No afã de ter resposta pronta à ousadia «corporativa» do Sindicato, o director do Público sentenciou que esta organização (representativa, de facto) «não quer estagiários nas redacções». Vai entre aspas porque era o título do texto que a secção Media dedicara ao mesmo assunto, uma peça equilibrada e isenta que, cotejando opiniões diversas sobre a opinião do Sindicato, nem numa sílaba sequer tem qualquer relação com a conclusão do referido título, que é, pelos vistos, a conclusão apressada de JMF. Um título destes, que atraiçoa o conteúdo da noticia, é imperdoável num jornal que tem como director um professor de jornalismo.

Uma leitura serena e desapaixonada do documento permitiria concluir que o Sindicato não quer expulsar os estudantes das redacções. Pelo contrário, deseja contribuir para que o contacto com as redacções seja mais digno e saia mais enriquecido esse período preliminar à entrada na profissão; que os estudantes não sejam explorados como mão de obra gratuita substituindo jornalistas em férias ou doentes; que os estudantes não executem tarefas que jornalistas não gostam de fazer; que os estudantes não sejam expostos a riscos – até para a sua integridade física – e a responsabilidades que não se lhes Ihes podem exigir. O Sindicato dos Jornalistas não tem dúvidas de que o período de observação por estudantes não pode confundir-se com o período de estágio profissional legal e convencionalmente consagrado nem dar lugar à utilização, na edição de jornais ou serviços noticiosos de rádios, televisões ou agências, de trabalho realizado por aqueles, Sob pena de pactuarmos com o trabalho negro que JMF diz condenar.

No Sindicato, sabemos do que falamos. Trabalhamos em redacções, há entre nós docentes universitários e formadores, conhecemos a realidade concreta pela observação no terreno e pelo imenso caudal de queixas e desabafos que desagua na nossa sede, Por isso, temos propostas concretas. Já oferecemos a nossa disponibilidade para as expôr às empresas e às universidades e discutimos sempre abertamente as nossas posições, Em Maio, vamos realizar as terceiras Jornadas de Acesso ã Profissão.

O ofício-circular em causa – que tem merecido inúmeras manifestações de aplauso – não é uma medida avulsa, integra-se numa linha de intervenção em várias frentes, em defesa da dignidade da profissão e visando a reposição de direitos dos jornalistas; a sua protecção em emagrecimentos, restruturações e outras situações de despedimentos; a prevenção e o combate à precariedade; o acompanhamento e apoio o mais precoce possível dos futuros jornalistas; o combate à usurpação das criações jornalísticas; as preocupações sobre a deontologia profissional. De muitas acções e medidas nestes domínios, o Público tem dado notícias. Por isso, são injustas e infundadas as observações que o seu director faz ao Sindicato.

Nota do Director – Independentemente de saber se o título do artigo da secção de Media reflectia todas as cambiantes do texto em causa – um título é sempre redutor; como se sabe -, a verdade é que um Sindicato que não quer que estudantes de jornalismo façam trabalhos jornalísticos não quer que esses estudantes se integrem numa redacção: quer apenas que eles assistam ao que faz uma redacção. Isso faz toda a diferença. E é por isso que considero os estágios curriculares períodos de formação dos estudantes e não períodos de «observação por estudantes» como os define o presidente do Sindicato. Como jornalista, como director de um jornal, como alguém que durante muitos anos foi responsável pelo acompanhamento. no Público, da integração desses candidatos à profissão, e ainda como professor numa escola de formação de jornalistas, não tenho dúvidas que o que os estudantes desejam é fazer, não é «observar» – J.M.F.

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