Taxa de distribuição imposta pela VASP põe em causa a venda de jornais e revistas

O Sindicato dos Jornalistas encara com preocupação e surpresa a decisão da VASP, empresa de distribuição de jornais e revistas em Portugal, de cobrar uma taxa diária de 1,5 euros aos agentes que comercializam imprensa escrita.

O boicote anunciado pelos agentes de venda é um sinal muito forte de que a medida precisa de ser revista, sob pena de contribuir para afundar mais a indústria dos jornais e revistas em papel, fortemente afetada pelo fecho de quiosques e cafés nos períodos de confinamento vividos no país durante a pandemia de covid-19.

Numa altura em que muitos cafés ainda não voltaram a comprar jornais, alegando que ainda trabalham a meio-gás, e com tantos quiosques que nunca chegaram a reabrir após a pandemia, o SJ entende que esta decisão da VASP dá um sinal contrário ao necessário, coloca o ónus nos agentes de venda e pode ser, a manter-se o boicote, um rude golpe na indústria do papel e, por acréscimo, um “tiro no pé” da própria distribuidora.

Quando as empresas do setor da comunicação se esforçam para recuperar a venda de jornais em banca, apostando em estratégias de “marketing” e publicidade, esta medida da VASP vem prejudicar a recuperação que tão necessária é à sobrevivência de vários órgãos de comunicação social em Portugal, que começavam a ver a luz ao fundo do túnel, num momento em que são dados novos passos no desconfinamento.

Assim, esta decisão não deixa de nos surpreender também por isso, contribuindo para que se levantem questões sobre as intenções da VASP para o negócio da distribuição da imprensa escrita, do qual dependem inúmeros jornais e revistas, que serão fortemente prejudicados por esta medida. Por acréscimo, serão também afetados os jornalistas, com mais empregos a ficar em risco, e a diversidade e qualidade de informação que chega aos cidadãos.

O SJ entende que a venda de jornais e revistas em papel, apesar da crescente digitalização da nossa sociedade, continuam a ser um elemento de identidade nacional e de coesão territorial, que permite combater assimetrias e levar informação de qualidade a todos os territórios e a uma maior diversidade de leitores. É, por isso, urgente que a VASP reveja esta decisão.

Segundo foi anunciado, a VASP pretende cobrar, a partir de 4 de julho, uma taxa diária de entrega no valor de 1,50 euros de segunda a sábado e de um euro aos domingos, a que acresce o IVA, como forma de comparticipação dos custos de transporte, entrega e recolha das publicações.

Face a esta decisão, pelo menos, 320 pontos, organizados num grupo na rede social Facebook, decidiram boicotar, desde 1 de junho, a venda do “Correio da Manhã”, a que se juntou o “Expresso”, nesta sexta-feira, 4 de junho.

A partir da próxima segunda-feira podem ser acrescentados mais títulos a esta lista, sendo que vários quiosques e papelarias suspenderam já a venda de qualquer jornal ou revista. A par destas iniciativas foi também criada uma petição pública a expressar o desagrado com esta medida da VASP.

De acordo com os números avançados à Lusa pelos comerciantes, a VASP tem cerca de 6000 pontos de venda que vão ser obrigados a pagar cerca de 49,32 euros por mês, perfazendo um total de 295.920 euros.

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