Verificação de dados credibilizaria jornalismo português

A existência de comissões de verificação de factos, à semelhança do que acontece nos principais órgãos de comunicação dos EUA, daria maior credibilidade ao jornalismo português, consideraram os participantes do debate “Jornalismo e Literatura: Inimigos ou Amantes?”, realizado a 8 de Junho no Auditório 2 da Feira do Livro de Lisboa.

“É certo que houve Pulitzers para histórias falsas, mas a existência dessas comissões imprime ao jornalista um certo receio de ser descoberto caso ficcione um trabalho jornalístico”, afirmou José Mário Silva, um dos quatro participantes neste debate.

Admitindo que já se sentiu tentado a rematar uma reportagem com uma frase fictícia, o jornalista da “DNA”, revista-suplemento do “Diário de Notícias”, diz no entanto que nunca o fez, dado que “é preciso respeitar o pacto do jornalismo com a verdade”.

Acerca desse pacto, Pedro Mexia, do “DN”, considerou positivo que o mesmo não fosse válido para a literatura, “apesar de muita ficção portuguesa assentar na verdade”, e deu o exemplo de “Baía dos Tigres”, de Pedro Rosa Mendes, livro que joga com a ambiguidade.

“Será um romance? Um livro de reportagens?”, questionou o crítico literário e poeta, para quem “o que parece interessar é que a obra cative o leitor, sem que este conheça o género que está a ler”, pois “se o livro fosse identificado como de reportagens teria muito menos saída comercial”.

As dificuldades de viver apenas da escrita em Portugal foram evidenciadas por Cláudia Galhós, colaboradora do “Jornal de Letras”, que destacou ainda o facto de o jornalismo ser “muito absorvente em termos de tempo e disponibilidade mental”, dificultando o exercício dos dois ofícios em simultâneo.

No entanto, a autora de “Sensualistas” não se vê a abandonar qualquer das áreas, e admitiu transportar “muitas influências do trabalho como jornalista para a escrita de ficção”, embora o estilo de escrita usada dependa sempre do espaço em que está a escrever.

Assumindo-se claramente como “jornalista-escritor”, Joel Neto afirmou que o que mais distingue jornalismo e literatura são as regras técnicas – as quais é preciso conhecer bem para se poderem subverter.

“O jornalismo dá-me as balizas diárias que preciso para viver”, confessou o redactor da “Grande Reportagem”, para quem “tal como a literatura, o jornalismo é a observação da essência humana”, sendo esta uma das razões pelas quais “há mais a unir o jornalismo e a literatura do que a separá-los”.

O debate “Jornalismo e Literatura: Inimigos ou Amantes?”, que teve casa cheia, tomou o nome do ensaio de Helena de Sousa Freitas, jornalista da agência Lusa, que moderou a sessão.

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