Time-Warner cede às pressões do tribunal

A Time-Warner, empresa detentora da revista “Time”, anunciou que vai entregar ao tribunal documentos pertencentes ao jornalista Matthew Cooper relacionados com o caso da agente secreta Valerie Plame, o que poderá levar à identificação das fontes confidenciais do jornalista.

Em comunicado, o chefe-de-redacção da revista, Norman Pearlstine, justificou a decisão dizendo que “a mesma Constituição que protege a liberdade de imprensa exige obediência às decisões dos tribunais e respeito pelas suas deliberações e julgamentos. O facto de discordarmos fortemente dos tribunais não nos dá imunidade”.

Para o responsável da “Time”, a entrega dos documentos “torna desnecessário o testemunho de Matthew Cooper e remove certamente qualquer justificação para a sua prisão”.

Apesar de cumprir as ordens do tribunal, a empresa afirma que irá continuar a apoiar a protecção das fontes confidenciais, em especial os projectos legislativos que podem vir a ser discutidos no Congresso e no Senado.

Dono do “NYT” desiludido

O dono de “The New York Times” (NYT), Arthur Sulzberger Jr, afirmou-se “profundamente desiludido” com a decisão da “Time” e, em estilo de comparação recordou um caso que ajudou à aprovação de uma lei-escudo no estado de Nova Jérsia há quase 30 anos:

“Em 1978, a The Times Company enfrentou pressões similares quando o nosso repórter Myron Farber foi condenado por desrespeito ao tribunal por se recusar a revelar os nomes das suas fontes confidenciais. Ele cumpriu 40 dias de prisão e nós fomos forçados a pagar multas elevadas”, disse Arthur Sulzberger Jr.

O proprietário do “The New York Times” reafirmou ainda o seu apoio incondicional à jornalista Judith Miller, que tal como Matthew Cooper corre o risco de ser presa a 6 de Julho por defender o direito ao sigilo profissional.

“Uma profunda traição a um princípio fundamental do jornalismo”

Esta postura do “NYT” é aplaudida pela Federação Internacional de Jornalistas (FIJ), que considera a acção da Time-Warner como uma “profunda traição a um princípio fundamental do jornalismo”

“É impossível não concluir que os interesses comerciais se sobrepuseram à defesa de um princípio como o segredo profissional”, disse o secretário-geral da FIJ, Aidan White, acrescentado que a atitude da Time-Warner “não é apenas um golpe para o profissionalismo e a moral de uma empresa, é também um prejuízo para o jornalismo de todo o mundo”.

Pressões intoleráveis

A FIJ aproveitou ainda este caso para recordar a decisão tomada pelos tribunais norte-americanos esta semana no caso Wen Ho Lee, também relacionado com a relevação de fontes confidenciais.

Neste processo, o juiz impôs uma multa de 500 dólares diários a quatro repórteres até que estes se decidissem a quebrar o sigilo profissional, uma acção que segundo a FIJ “coloca uma pressão intolerável sobre os jornalistas”.

“Já é tempo de os juizes norte-americanos reflectirem acerca das consequências para a democracia e para a liberdade de imprensa provocadas pela ‘abertura da época de caça’ a quem quer que fale com um jornalista acerca de assuntos de interesse público”, concluiu Aidan White.

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