O Conselho de Redacção (CR) do “Diário de Notícias” considera “inaceitável a decisão da Direcção” de retirar da edição de 18 de Agosto um texto de opinião de uma jornalista da redacção, que já estava paginado.
Em reunião do CR, a 25 de Agosto, o director do DN, Fernando Lima, explicou que “o texto não se inseria no espírito das páginas de Verão do DN”, que classifica como “páginas light, adequadas a esta época do ano”. O director acrescentou que “a jornalista já tinha publicado dois textos que a Direcção considerara ‘inadequados’ para aquele espaço”. A justificação não foi acolhida pelo CR, que salienta, em comunicado, “que nada havia no texto de Fernanda Câncio que justificasse a sua não publicação”.
O texto em causa “fazia algumas alusões políticas (exemplo: «O quadro temporal do reinado de Ferreira Leite coincide com o acesso de loucura da Nação»), mas naquele mesmo espaço, dias antes, a escritora Maria João Lopo de Carvalho usara a sua crónica para fazer igualmente considerações políticas (exemplo: «O País esteve triste mas agora a temperatura subiu (…) depois da lufada de ar fresco que o Pedro Santana Lopes nos veio trazer»). Sem que a Direcção tivesse levantado qualquer objecção à publicação do referido texto”, acrescenta o CR.
O director “acentuou que os casos de Maria João Lopo de Carvalho e Fernanda Câncio não são comparáveis, pois a primeira é uma colaboradora convidada apenas para escrever no DN no período do Verão e a segunda é membro da Redacção do jornal”.
Os membros eleitos do CR manifestam “o seu receio de que episódios deste tipo possam constituir um condicionamento ao exercício do direito de opinião dos jornalistas do DN”.
Recorde-se que da mesma edição de 18 de Agosto do DN foi retirado pela Direcção um outro texto, que relatava declarações críticas do ministro Álvaro Barreto sobre o primeiro-ministro Santana Lopes, feitas há oito anos atrás, o que levou à demissão da editora adjunta da secção de Política Nacional, Graça Henriques. Este caso foi tratado numa reunião do CR efectuada no passado dia 19.
Sondagens
Na reunião de 25 de Agosto, o CR debateu outros assuntos, como o do pedido de demissão do editor adjunto da secção de Desporto, Rui Frias, e as promoções na Redacção, tendo o CR salientado “que já há cerca de três anos não se registam avaliações aos jornalistas”.
“A preocupação dos jornalistas pelos mais recentes índices de audiências do DN” foi também abordada na reunião, tendo o director afirmado que o jornal “viveu um período difícil e a recuperação tem sido lenta”. Contudo, sublinhou, a actual Direcção “conseguiu estancar a descida e iniciar a recuperação” do DN. “Este Verão estamos a vender bem”, acrescentou.
Os membros eleitos do CR “criticaram a publicação de uma notícia na edição de 22 de Maio sobre uma sondagem encomendada pelo PSD/Açores que dava a vitória a este mesmo partido nas próximas eleições regionais”. Segundo o CR, “não havia motivos jornalísticos que justificassem esta notícia, que nem sequer vinha acompanhada de uma ficha técnica, como é obrigatório por lei”.
Ainda segundo o comunicado, “mereceu igualmente críticas o facto de o último barómetro do DN antes das eleições europeias, que antecipava a vitória do PS nas urnas, por larga maioria, não ter sido chamado à primeira página do jornal. Um facto tanto mais de estranhar quanto todos os barómetros têm chamada de capa, além de que aquela sondagem acabou por ser a que mais se aproximou dos resultados reais das eleições”.
O comunicado do CR não contém qualquer resposta do director à pergunta que os membros eleitos do CR fizeram a propósito desta última questão: “Qual a vantagem de o DN gastar dinheiro em sondagens se depois entende não lhes dar qualquer relevo?”.