SJ em artigo internacional sobre a precariedade dos fotojornalistas

João Miguel Rodrigues, dirigente do Sindicato, respondeu à Index of Censorship sobre como se degradaram as condições de trabalho e se acumularam despedimentos.

“Os fotojornalistas são mais afetados pela precariedade, porque, além de pagarem os seus estudos, como qualquer outro profissional, têm também de realizar um investimento avultado em material fotográfico e de pós-produção e envio, se quiserem ter uma carreira no fotojornalismo”: é assim que João Miguel Rodrigues, fotojornalista e dirigente do Sindicato dos Jornalistas, responde a uma pergunta sobre se é justo dizer que os fotojornalistas estão entre os jornalistas que mais sofrem com precariedade, em declarações à Index of Censorship, projeto pela defesa da liberdade de expressão com revista e site em Londres.

Na peça, assinada pelo repórter João de Almeida Dias, são abordados diversos casos como os de Enric Vives-Rubio, despedido do diário Público, e Nuno Fox, afastado do grupo Impresa.

Por outro lado, João Miguel Rodrigues prossegue nessa resposta: “Aos olhos das redações, os fotojornalistas são vistos como meros técnicos e não como verdadeiros jornalistas, o que tem impedido a progressão na carreira e o aumento salarial. Há ainda a perda de influência dos editores de fotografia nas redações (neste momento, quem combina e marca os trabalhos são os próprios fotojornalistas, que também já editam fotos), restando apenas um coordenador/facilitador, geralmente um fotógrafo que não tem nem cargo nem salário de editor”.

Sobre o modo como é afetado o trabalho dos fotojornalistas na precariedade, o dirigente do Sindicato riposta: “Quando uma fotografia necessita de material para ser competentemente realizada, e necessita ainda de tempo para que a empatia com o fotografado ou com a situação a fotografar seja criada, mas o fotojornalista não tem essa hipótese, o brio profissional é atingido e existe desmotivação. Mas o fator monetário é, provavelmente, o que mais desgaste provoca, até porque é uma profissão exigente em termos de horário de trabalho. Se fizermos uma média dos valores atualmente praticados pelos OCS, o pagamento por trabalho ronda os 30/40€. Estes profissionais não conseguem pagar o investimento em material, quanto mais fazer frente ao custo de vida e a todas as responsabilidades familiares e sociais. Se a isto acrescentarmos a falta de trabalho, por redução de efetivos nas redações, e a diminuição de exigência em termos de critérios editoriais, concluímos que é cada vez mais difícil para estes profissionais encontrarem e manterem trabalho”.

Questionado sobre se há registo de quantos fotojornalistas há a trabalhar com falsos recibos verdes? E se há registo de quantos fotojornalistas foram despedidos depois de trabalharem como falsos recibos verdes nos
últimos cinco anos, o sindicalista responde: “No atual cenário, um recibo verde é, geralmente, um trabalhador precário e só muito raramente um verdadeiro trabalhador independente. Por ausência de dados das empresas e alguma conivência dos profissionais, que precisam de trabalhar para ir recebendo algum dinheiro e manterem-se no mercado, não conseguimos quantificar exatamente o número de profissionais nestas condições, nem os que foram despedidos nos últimos anos. Uma certeza temos: um terço dos jornalistas portugueses trabalha em condições precárias”.

E lembra o abrangente estudo divulgado no IV Congresso dos Jornalistas, em janeiro do ano passado, acentuando: “Nos últimos 10 anos, muitos profissionais foram afastados do jornalismo e é ainda de destacar que, em Portugal, o trabalho freelancer é muito condicionado pela excessiva concentração de OCS em grandes grupos de comunicação, que não se coíbem de exigir exclusividade sem pagar por ela”.

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