O Sindicato dos Jornalistas (SJ) marcou presença nas manifestações populares que assinalaram o 25 de Abril, um pouco por todo o país, esta terça-feira. Porque reconhecemos que a revolução dos cravos nos deu a nossa melhor ferramenta, mas sabemos que nenhuma conquista é definitiva nem nada é garantido.
Em Lisboa, o SJ desceu a Avenida da Liberdade, no tradicional desfile que marca a data na capital portuguesa, ao lado de milhares de pessoas de várias classes profissionais e muita gente que não quer voltar a viver no 24 de abril. No Porto, onde tem uma delegação, o Sindicato dos Jornalistas acompanhou a marcha, que partiu do largo em frente à sede da antiga polícia política da ditadura, a PIDE, até à Avenida dos Aliados, com a Praça da Liberdade aos pés.
Porque o Sindicato dos Jornalistas não esquece, e agradece, que a nossa principal ferramenta de trabalho foi Abril que no-la deu: a liberdade de expressão, que nos permite escrever reportagens, notícias, comentários ou dar opinião, livremente, sem medo da polícia ou de retaliação. Num país que, infelizmente, não está imune a movimentos inorgânicos ou a tendências extremistas, a liberdade de Imprensa, consignada pela liberdade de expressão que nos deu Abril, é a arma que temos para defender a profissão, o jornalismo livre e independente, também economicamente, e combater a desinformação, a iliteracia democrática e aqueles que se aproveitam das conquistas de abril para tentar cercear a liberdade que é de todos.
Reconhecendo o perigo que certos movimentos colocam à liberdade, de todos e de uma forma geral, e ao exercício da profissão, de um modo mais particular e que nos interessa e preocupa, o SJ felicita e abraça todos os camaradas que saíram à rua neste dia. O SJ felicita, ainda, todos os jornalistas que, diariamente, cumprem o dever de informar, que todos os dias desempenham o papel fundamental de escrutinar a Democracia, e todos os que denunciam injustiças, ao fundo da rua ou do outro lado do mundo, e tantos outros que nos dão novos mundos ao nosso mundo.
Um Mundo que pode mudar radicalmente nos próximos anos. Ainda atordoados com os efeitos das redes sociais na profissão, enfrentamos um novo desafio, a Inteligência Artificial (IA), que segundo os criadores vai ter impacto em todas as profissões e áreas de saber do Mundo.
Mal refeitos do impacto das redes sociais, que desestruturaram o jornalismo, que nos ameaçaram com as “fake news”, que nos deixam em cuidados com o potencial enganoso do “deep fake” e que esboroaram a base económica de sustentabilidade das empresas jornalísticas, com as grandes plataformas como a Google e o Facebook a banquetearem-se com 90% da publicidade mundial, deixando-nos migalhas e prato quase vazio, temos agora de nos unir e preparar para novos e, provavelmente, nunca antes vistos perigos. E só uma classe forte, um jornalismo sério, isento, rigoroso e imparcial pode fazer a diferença, mostrando a utilidade determinante do nosso trabalho para uma sociedade mais justa e igualitária. Ou, em função da ameaça que se aproxima, uma sociedade informada e melhor preparada para lidar com a revolução que promete ser a IA.
Apesar das conquistas de Abril, não negamos nem fechamos os olhos às dificuldades da profissão, principalmente para os mais novos, com salários de miséria, empancados pelo ordenado mínimo ou pouco mais, sufocados pela inflação e tolhidos pela especulação, a viver em quartos pelo preço de palácios e com poucas (ou nenhumas) vistas para o futuro. É por esses, principalmente, mas também por todos, que temos um novo Contrato Coletivo de Trabalho (CCT), arduamente negociado nos últimos seis anos, que traz melhorias para toda a classe, tanto ao nível salarial como das condições de trabalho e de respeito pela vida pessoal e privada. Mas, como Abril não está garantido e todos os dias precisa de trabalho e da nossa atenção para continuar vivo, o novo CCT, a chegar-nos às mãos em breve, também precisará da força da classe para vingar e prosperar. Porque nada nos é dado, nada é garantido e só unidos prevaleceremos. Viva o 25 de Abril. Sempre!