Novo livro sobre o jornalismo e os jornalistas portugueses

O início da segunda metade do século XX foi decisivo para a construção da profissão de jornalista em Portugal, consideram Fernando Correia e Carla Baptista, autores do livro “Jornalistas: do ofício à profissão. Mudanças no jornalismo português (1956-1968)”, obra publicada recentemente.

O livro, publicado pela Editorial Caminho com o patrocínio do Instituto da Comunicação Social, reconstitui as condições políticas, sociais, culturais, tecnológicas do jornalismo português, retratando o modo como os jornalistas portugueses foram construindo um território profissional, orientado por valores éticos e humanos e definido pela posse de competências e saberes específicos.

Esse percurso foi lento e acidentado, ora estimulado por transformações sociais, ora interrompido por circunstâncias históricas e políticas adversas, como a censura durante o Estado Novo.

Resultado de um trabalho de investigação realizado no âmbito de projecto do Centro de Investigação Média e Jornalismo (CIMJ), o livro vive em grande parte de 38 entrevistas semidirectivas, as quais permitiram aos autores recuperar a memória de jornalistas que iniciaram a profissão antes de meados dos anos 1960.

Analisando os testemunhos desses profissionais, é possível saber como se entrava para as redacções, como estas se organizavam e funcionavam e qual o ambiente de trabalho e de relacionamento entre jornalistas e com os tipógrafos, que ainda usavam fatos-macaco e trabalhavam com chumbo quente.

Tudo isto num tempo em que as novas tecnologias se chamavam máquina de escrever, fax, telex ou gravador, os jornalistas começavam a deixar de ir de eléctrico para os serviços e nas redacções se usavam palavras que hoje soam estranhas e longínquas, como “linguados”, “espeto”, “passadores de prosa” e “repórteres informadores”.

Fernando Correia é mestre em Comunicação, Cultura e Tecnologias da Informação pelo ISCTE, professor da Universidade Lusófona, chefe de redacção da revista “Vértice” e director editorial da revista “Jornalismo e Jornalistas”.

Carla Baptista foi jornalista no “Diário de Notícias”, escreveu o livro “Portugal no olhar de Angola”, e é docente na Universidade Nova de Lisboa, onde prepara o doutoramento em Ciências da Comunicação.

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