Na morte de Mário Ventura Henriques

O Sindicato dos Jornalistas (SJ) tomou conhecimento com profundo pesar do falecimento do jornalista e escritor Mário Ventura Henriques, ocorrido a 16 de Junho.

Mário Ventura Henriques, nascido em Lisboa em 1936, faleceu vítima de cancro no Hospital Pulido Valente, legando vários anos de trabalho jornalístico em Portugal e Espanha e uma obra literária com mais de 15 volumes que inclui contos, romances, álbuns e livros de memórias.

Mário Ventura Henriques, sócio n.º 39 do Sindicato dos Jornalistas, iniciou-se na profissão em 1958, no “Diário Popular”. Trabalhou também no “Diário de Notícias”, chefiou a agência noticiosa Europa Press, pertenceu ao conselho de redacção da revista “Seara Nova” e dirigiu o semanário “Extra”.

A partir de 1968 foi também correspondente de vários órgãos da imprensa espanhola e chegou a dirigir a edição portuguesa da revista “Cambio 16”.

Mário Ventura Henriques foi um dos cerca de 150 trabalhadores da Comunicação Social suspensos de funções na sequência do 25 de Novembro de 1975, quando era Redactor Principal do “Diário de Notícias”, onde exerceu interinamente as funções de Chefe de Redacção. Durante cerca três anos foi mantido iniquamente afastado daquele diário, em cuja redacção acabaria por ser reintegrado.

A par da sua actividade jornalística e literária, Mário Ventura Henriques envolveu-se na actividade política contra o regime ditatorial de Salazar e Caetano, sendo, inclusive, candidato a deputado pelo Movimento Democrático Português em 1969.

Actualmente era membro do Conselho Geral da Intervenção Democrática e em 1999 foi candidato ao Parlamento Europeu pela CDU.

Mário Ventura Hneriques fez a sua estreia com “A Noite da Vergonha”, publicado em 1963, seguindo-se “À Sombra das Árvores Mortas” (1966) e “O Despojo dos Insensatos” (1968).

Reuniu depois nos volumes “Alentejo Desencantado” (1969) e “Morrer em Portugal” (1976) narrativas sobre várias regiões do país, tendo regressado ao romance em 1979 com “Outro Tempo Outra Cidade”, a que se seguiu, seis anos mais tarde, em 1985, “Vida e Morte dos Santiagos”, que venceu o Prémio de Ficção do Pen Clube e o Prémio Literário do Município de Lisboa.

O escritor publicou ainda “Conversas” (1986), uma colectânea de diálogos com escritores, os romances “Março Desavindo” (1987) e “Évora e os Dias da Guerra” (1992), este último vencedor de um novo prémio do Pen Clube.

Assinou igualmente “A Revolta dos Herdeiros” (1997), “O Segredo de Miguel Zuzarte” (1999), “Quarto Crescente” (memórias, 2001) e o álbum “Portugal – Geografia do Fatalismo”.

Em 2002 lançou “Atravessando o Deserto” e, no ano seguinte, viu sair uma reedição de “A Noite da Vergonha”, para assinalar os 40 anos da sua vida literária.

Um novo romance, “O Reino Encantado”, chegou em 2005, ano em que foi reeditada “Vida e Morte dos Santiagos”, assinalando as duas décadas da publicação original da obra.

Presidente da Associação Portuguesa de Escritores no início da década de 1990, Mário Ventura Henriques notabilizou-se também enquanto mentor e presidente do Festroia – Festival Internacional de Cinema, que fez nascer em 1985.

O corpo de Mário Ventura será trasladado para a igreja de S. Paulo, em Setúbal, de onde dia 17, às 16 horas, sairá o funeral para o cemitério de Nossa Senhora da Piedade, na mesma cidade.

A Direcção do SJ apresenta as mais sentidas condolências aos familiares e amigos do camarada de profissão agora desaparecido.

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