A morte do jornalista António Paulouro causou profundo pesar ao Sindicato dos Jornalistas, cuja Direcção apresenta à sua família as mais sentidas condolências.
Fundador e director do “Jornal do Fundão”, António Paulouro faleceu hoje, 29 de Agosto de 2002, com 87 anos de idade, no hospital do Fundão. Um acidente vascular cerebral foi a causa da morte do jornalista, que estava em coma desde domingo.
António Paulouro deixa um legado inestimável, ao construir, através do “Jornal do Fundão”, um projecto ímpar na Imprensa portuguesa, não só pelo seu papel na defesa dos interesses da Beira Interior, mas também pelo espaço de defesa da liberdade e da cultura que representou, nomeadamente durante o Estado Novo.
Personalidade singular do jornalismo português, António Paulouro era o portador da Carteira Profissional número 276, que lhe foi atribuída numa cerimónia de homenagem promovida pelo Sindicato dos Jornalistas, em 1993.
Natural do Fundão, António Paulouro era um autodidacta e foi empregado de escritório até fundar, a 27 de Janeiro de 1946, o semanário que transformaria num porta-voz da região e que contaria, entre os seus colaboradores, com alguns dos maiores escritores portugueses da segunda metade do século XX, como José Régio, Alexandre O’Neill, José Cardoso Pires, Eugénio de Andrade ou José Saramago.
O jornalista foi vice-presidente da Câmara Municipal do Fundão entre 1951 e 1958, ano em que assume publicamente a ruptura com o Estado Novo e a condição política de oposicionista.
Em 1960, António Paulouro funda a “Arco Íris”, uma revista de pequeno formato cujo chefe de redacção é o escritor Mário Henrique-Leiria. Apenas são publicados cinco números, antes de a PIDE prender os três redactores da publicação, que viviam em Lisboa.
Em 1963, o “Jornal do Fundão” dá ampla cobertura à visita ao distrito de Castelo Branco do ex-presidente do Brasil, Juscelino Kubitschek de Oliveira, furando o muro de silêncio decretado pelo Governo em relação à deslocação do fundador de Brasília, que a televisão, a rádio e os jornais foram proibidos de noticiar.
O semanário dirigido por António Paulouro esteve suspenso durante cinco meses, em 1965, após ter noticiado a atribuição de um prémio literário ao escritor e lutador anti-colonialista angolano, Luandino Vieira, que então estava detido no Tarrafal. Nessa altura, promove a vinda a Portugal de alguns grandes escritores do Brasil, como João Cabral de Melo Neto, Erico Veríssimo e Odilo Costa.
Em 1972, organiza o Encontro Nacional do Teatro, no qual participam Alfonso Sastre e alguns dos principais autores, encenadores e actores portugueses.
Dois anos após o 25 de Abril, funda e dirige, com Herberto Hélder e António Sena, a revista luso-espanhola “Nova”, que tem como delegados Jorge de Sena, nos Estados Unidos, e Vicente Aleixandre, em Espanha, que receberia o Prémio Nobel em 1977.
Em Agosto de 1977 organiza o primeiro Encontro de Emigrantes, no qual participam 15 mil pessoas e o Presidente da República Ramalho Eanes. A ligação ao universo da emigração foi outra das marcas distintivas do “Jornal do Fundão”, acompanhando a diáspora das gentes da Beira.
Em 1984, António Paulouro organiza, no Fundão, as primeiras Jornadas da Beira Interior, contando de novo com a presença de Ramalho Eanes e que reúne 500 participantes. A actividade do jornalista, bem como do semanário que dirigiu, orientava-se não apenas no sentido da denúncia dos problemas regionais, mas também no da mobilização da sociedade civil e das instituições, na busca de soluções para as dificuldades da Beira Interior. Estas jornadas repetir-se-iam em 1986 e 1990.
António Paulouro foi membro da Comissão de Honra do primeiro Congresso dos Jornalistas Portugueses e foi deputado por Castelo Branco à Assembleia da República, em 1986 e 1987.
O jornalista foi condecorado com a Ordem da Liberdade, em 1986. Foi ainda homenageado pela Universidade de Salamanca, no mesmo ano, e pelos municípios da Covilhã e do Fundão, em 1990 e 1993.