Morreu o jornalista e antifascista Alípio de Freitas

Velório de associado do Sindicato dos Jornalistas foi ontem, às 17h, na Basílica da Estrela, em Lisboa. Funeral realizou-se às 12h de quarta-feira, dia 14, na localidade alentejana de Alvito, onde está enterrada a sua mãe.

O jornalista e antifascista lusobrasileiro Alípio de Freitas morreu, aos 88 anos, em Lisboa, disse ao Sindicato dos Jornalistas um amigo próximo da família.

Nascido em Bragança, a 17 de fevereiro de 1929, Alípio de Freitas seria ordenado padre em 1952, antes de passar cinco anos em convivência com comunidades de pobres na serra de Montesinho.

Seguiu-se a viagem para o Brasil, por convite do arcebispo do Maranhão, onde, além de criar estruturas de apoio social aos mais desfavorecidos, começou a dar aulas na Universidade.

Só após a passagem por Moscovo, em 1962, como participante num Congresso Mundial da Paz, onde marcaram presença, entre outros, Pablo Neruda e La Pasionaria, se demarcou da igreja e, por causa do apoio a Miguel Arraes como candidato a liderar o estado de Pernambuco, foi preso durante mais de um mês.

Naturalizou-se brasileiro, criou as Ligas Camponesas, participou em ocupação de terras e, em função do golpe militar de 1964, pediu asilo político no México, tendo ainda vivido em Cuba.

Dois anos mais tarde regressou ao Brasil sem que o governo se apercebesse, dinamizando o movimento dos camponeses. Já era dirigente do Partido Revolucionário dos Trabalhadores quando, em 1970, a polícia voltou a prendê-lo, desta vez agravando a sua detenção com a aplicação de torturas como choques elétricos.

No álbum “Com as minhas Tamanquinhas”, editado em 1976, Zeca Afonso dedica-lhe uma música com o seu nome. Seria libertado somente em 1979 e, depois de ter passado por quase dez estabelecimentos prisionais, escreveu “Resistir é Preciso”, tornando-se apátrida.

Viajou rumo a Moçambique em 1981, de novo como apoiante de camponeses, e é também da década de 1980 a sua entrada na RTP, empresa em que permaneceu até 1994. Entre outras coisas, ao lado de nomes como Carlos Pinto Coelho, Mário Zambujal e José Nuno Martins, ajudou a concretizar o programa Fim-de-Semana.

Co-fundador da Casa do Brasil em Lisboa, membro da Comissão Coordenadora do Tribunal Mundial sobre o Iraque (audiência portuguesa), Alípio de Freitas deu aulas de Economia Política e presidiu à direção da Associação José Afonso, instituição de que é um dos fundadores.

Apesar dos problemas de saúde, que lhe afetaram a visão, Alípio de Freitas continuou a apoiar causas sociais, colaborando com os mais desfavorecidos em diversas vertentes.

Para o próximo sábado está marcado um concerto de homenagem a Alípio de Freitas, no Fórum Lisboa, ao qual o Sindicato dos Jornalistas (SJ) se associou como forma de manifestar admiração pelo percurso de lutador deste seu associado e membro do Conselho Geral do SJ entre 2000 e 2010.

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