A grave situação que se vive em muitas redacções ultrapassa as questões laborais e empresariais e deve preocupar os cidadãos, porque está afinal em crise a própria democracia, alerta um conjunto de jornalistas no Manifesto “Pelo jornalismo, pela democracia”.
Difundido em plena luta dos jornalistas e outros trabalhadores ao serviço da Agência Lusa, que estão em greve até domingo, e do “Público”, que paralisam amanhã, o manifesto sublinha que “a redução de efectivos, a precariedade profissional e o desinvestimento nas redacções podem parecer uma solução no curto prazo, mas não vão garantir a sobrevivência das empresas jornalísticas. Conduzem, pelo contrário, a uma perda de rigor, de qualidade e de fiabilidade, que terá como consequência, numa espiral recessiva de cidadania, a desinformação da sociedade, a falta de exigência cívica e um enfraquecimento da democracia.”.
O manifesto, que em breve estará disponível para subscrição pública, é do seguinte teor:
Pelo jornalismo, pela democracia
A crise que abala a maioria dos órgãos de informação em Portugal pode parecer aos mais desprevenidos uma mera questão laboral ou mesmo empresarial. Trata-se, contudo, de um problema mais largo e mais profundo, e que, ao afectar um sector estratégico, se reflecte de forma negativa e preocupante na organização da sociedade democrática.
O jornalismo não se resume à produção de notícias e muito menos à reprodução de informações que chegam à redacção. Assenta na verificação e na validação da informação, na atribuição de relevância às fontes e acontecimentos, na fiscalização dos diferentes poderes e na oferta de uma pluralidade de olhares e de pontos de vista que dêem aos cidadãos um conhecimento informado do que é do interesse público, estimulem o debate e o confronto de ideias e permitam a multiplicidade de escolhas que caracteriza as democracias. O exercício destas funções centrais exige competências, recursos, tempo e condições de independência e de autonomia dos jornalistas. E não se pode fazer sem jornalistas ou com redacções reduzidas à sua ínfima expressão.
As lutas a que assistimos num sector afectado por despedimentos colectivos, cortes nos orçamentos de funcionamento e precarização profissional extravasa, pois, fronteiras corporativas.
Sendo global, a crise do sector exige um empenhamento de todos – empresários, profissionais, Estado, cidadãos – na descoberta de soluções.
A redução de efectivos, a precariedade profissional e o desinvestimento nas redacções podem parecer uma solução no curto prazo, mas não vão garantir a sobrevivência das empresas jornalísticas. Conduzem, pelo contrário, a uma perda de rigor, de qualidade e de fiabilidade, que terá como consequência, numa espiral recessiva de cidadania, a desinformação da sociedade, a falta de exigência cívica e um enfraquecimento da democracia.
Porque existe uma componente de serviço público em todo o exercício do jornalismo, privado ou público;
Porque este último, por maioria de razão, não pode ser transformado, como faz a proposta do Governo para o OE de 2013, numa “repartição de activos em função da especialização de diversas áreas de negócios” por parte do “accionista Estado”;
Porque o jornalismo não é apenas mais um serviço entre os muitos que o mercado nos oferece;
Porque o jornalismo é um serviço que está no coração da democracia;
Porque a crise dos média e as medidas erradas e perigosas com que vem sendo combatida ocorrem num tempo de aguda crise nacional, que torna mais imperiosa ainda a função da imprensa;
Porque o jornalismo é um património colectivo;
Os subscritores entendem que a luta das redacções e dos jornalistas, hoje, é uma luta de todos nós, cidadãos.
Por isso nela nos envolvemos.
Por isso manifestamos a nossa solidariedade activa com todos os que, na imprensa escrita e online, na rádio e na televisão, lutando pelo direito à dignidade profissional contra a degradação das condições de trabalho, lutam por um jornalismo independente, plural, exigente e de qualidade, esteio de uma sociedade livre e democrática.
Por isso desafiamos todos os cidadãos a empenhar-se nesta defesa de uma imprensa livre e de qualidade e a colocar os seus esforços e a sua imaginação ao serviço da sua sustentabilidade.
Proponentes:
Adelino Gomes
Alfredo Maia – JN (Presidente do Sindicato de Jornalistas)
Ana Cáceres Monteiro, Media Capital
Alexandre Manuel – Jornalista e Professor Universitário
Ana Goulart – Seara Nova
Ana Romeu – RTP
Ana Sofia Fonseca – Expresso
Ana Tomas Ribeiro – Lusa
Anabela Fino – Avante
António Navarro – Lusa
António Louçã – RTP
Camilo Azevedo – RTP
Carla Baptista – Jornalista e Professor Universitária
Cecília Malheiro – Lusa
Cesário Borga
Cristina Martins – Expresso
Catarina Almeida Pereira – Jornal de Negócios
Cristina Margato – Expresso
Daniel Ricardo – Visão
Diana Ramos – Correio da Manhã
Diana Andringa
Elisabete Miranda – Jornal de Negócios
Fernando Cascais – Jornalista e Professor Universitário
Fernando Correia – Jornalista e Professor Universitário
Filipe Silveira – SIC
Filipa Subtil – Professora Universitária
Filomena Lança – Jornal de Negócios
Frederico Pinheiro – SOL
Hermínia Saraiva – Diário Económico
Joaquim Fidalgo
Joaquim Furtado
Jorge Araújo – Expresso
José Milhazes – SIC / Lusa (Moscovo)
José Vitor Malheiros
João Carvalho Pina – Kameraphoto
João Paulo Vieira – Visão
João d’Espiney, Público
José Luiz Fernandes – Casa da Imprensa
José Manuel Rosendo – RDP
José Rebelo – Professor e ex-jornalista
Luis Andrade Sá – Lusa (Delegação de Moçambique)
Luis Reis Ribeiro – I
Liliana Pacheco – Jornalista (investigadora)
Luciana Liederfard – Expresso
Luísa Meireles – Expresso
Maria de Deus Rodrigues – Lusa
Maria Flor Pedroso – RDP
Maria Júlia Fernandes – RTP
Martins Morim – A Bola
Manuel Esteves – Jornal de Negócios
Manuel Menezes – RTP
Margarida Metelo – RTP
Margarida Pinto – Lusa
Mário Nicolau – Revista C
Miguel Marujo- DN
Miguel Sousa Pinto – Lusa
Mónica Santos – O Jogo
Nuno Pêgas – Lusa
Nuno Aguiar – Jornal de Negócios
Nuno Martins – Lusa
Oscar Mascarenhas – DN
Patrícia Fonseca – Visão
Paulo Pena – Visão
Pedro Rosa Mendes
Pedro Caldeira Rodrigues – Lusa
Pedro Sousa Pereira – Lusa
Pedro Manuel Coutinho Diniz – Professor Universitário
Pedro Pinheiro – TSF
Raquel Martins – Publico
Rui Cardoso Martins
Ricardo Alexandre – Antena 1
Rosária Rato – Lusa
Rui Peres Jorge – Jornal de Negócios
Rui Nunes – Lusa
Sandra Monteiro – Le Monde Diplomatique
Sofia Branco – Lusa
Susana Barros – RDP
Susana Venceslau – Lusa
Tomas Quental – Lusa
Tiago Dias – Lusa
Tiago Petinga -Lusa
Vitor Costa – Lusa
Este é apenas o primeiro passo duma iniciativa que pretende ser mais ampla.
Nos próximos dias todos os jornalistas, bem como todos os cidadãos vão ser convidados a assinar e a participar.
Pelo jornalismo, Pela democracia