Maioria dos jornalistas tem licenciatura em comunicação e investe na formação contínua

Dados do mais recente e abrangente inquérito aos jornalistas, desenvolvido por uma equipa do ISCTE, em parceria com o Sindicato dos Jornalistas e o Obercom.

Dois terços dos jornalistas licenciados estudaram comunicação ou jornalismo, numa classe profissional que tem, na sua grande maioria, curso superior, indica o mais recente e abrangente inquérito aos jornalistas, desenvolvido por uma equipa do CIES-IUL (ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa), em parceria com o Sindicato dos Jornalistas e o Obercom, em 2016.
De acordo com o estudo “Os jornalistas portugueses são bem pagos? Inquérito às condições laborais dos jornalistas em Portugal”, cujos resultados globais serão apresentados no 4.º Congresso dos Jornalistas Portugueses, a partir de dia 12 de Janeiro, no Cinema S. Jorge, em Lisboa, além de qualificações académicas quase cinco vezes superiores à média nacional, os jornalistas preocupam-se em continuar a sua formação. Um em cada dez está a estudar e 55% fizeram formação nos últimos cinco anos.
Estas são as primeiras conclusões sobre escolaridade e formação, resultantes das respostas validadas de quase 1500 jornalistas.
Em 2016, cerca de dois terços (66,7%) dos jornalistas portugueses com licenciatura tinham frequentado cursos de Ciências da Comunicação, Comunicação Social ou Jornalismo. Os restantes têm estudos superiores muito diversificados.
Em 1997, eram 45,1% os licenciados em Ciências da Comunicação, Comunicação Social ou Jornalismo, pelo que, nas últimas duas décadas, houve uma acentuada concentração temática da formação superior dos jornalistas.
Dos restantes cursos superiores, os mais procurados têm temáticas directamente relacionadas com a comunicação, como Audiovisual e Multimédia (5,2%) ou Línguas e Literaturas (3,3%). As outras áreas de aprendizagem mais escolhidas pelos jornalistas são História (3,1%), Direito (2,5%), Relações Internacionais (2,4%), Sociologia ou Antropologia (2,0 %) ou Engenharia (1,8%). Apenas 12,9% escolheram um curso que não se enquadra nas áreas anteriormente descritas.
Em termos globais, os jornalistas têm uma escolaridade muito superior à média nacional, com quase 80 por cento (79,5%) a terem completado pelo menos uma licenciatura de três anos ou um bacharelato, enquanto a média da população portuguesa com mais de 15 anos é de apenas 17,1% (em 2015, segundo INE/Pordata).
Em 2016, a formação académica dos jornalistas é muito superior ao registado em 1987. Há três décadas, apenas 39,8% dos jornalistas tinham chegado à universidade e só 15,2% tinham completado uma licenciatura, de acordo com o primeiro estudo sociológico sobre a actividade jornalística em Portugal, “Elementos para uma Sociologia dos Jornalistas Portugueses”, publicado em 1988 por José Manuel Paquete de Oliveira na “Revista de Comunicação e Linguagens”.
Três anos depois, eram já 27,9% os jornalistas com curso superior completo, segundo os resultados do I Inquérito Nacional aos Jornalistas Portugueses, realizado em 1990 por José Luís Garcia e José Manuel Paquete de Oliveira e apresentado no 1.º Encontro Nacional de Jornalistas, em Março de 1991.
Já em 1997, segundo os dados recolhidos por José Luís Garcia no II Inquérito Nacional aos Jornalistas Portugueses, havia 43,6% de jornalistas com formação superior, fosse licenciatura (36,7%) ou bacharelato (6,9%).
Em 2006, os jornalistas licenciados tinham subido para 62,8%, dos quais 2,1% tinham mestrado e 0,3% doutoramento, segundo dados da Comissão da Carteira Profissional de Jornalista, trabalhados na investigação sobre o “Perfil Sociológico do Jornalista Português”, coordenada por José Rebelo, e publicados em “Ser Jornalista em Portugal: Perfis Sociológicos”, em 2011.
Curiosamente, em 2009, os valores quase não se alteraram, com 63,1% a terem formação superior (dos quais 3,4% com mestrado e 0,4% com doutoramento), de acordo com a mesma investigação.
Apesar do elevado nível de escolaridade actual, a maioria dos jornalistas (64,7%) só completou um bacharelato ou licenciatura. Isso significa que apenas 13,4% concluíram um mestrado e só 1,5% um doutoramento. No pólo oposto, há 20,4% que apenas frequentaram o ensino secundário. No entanto, em 1997, eram 51% aqueles que apenas tinham o 12.º ano, segundo o “Relatório do II Inquérito Nacional aos Jornalistas Portugueses”.
Além da sua formação inicial, os jornalistas parecem procurar manter-se actualizados e em aprendizagem. Por um lado, 9,7% afirmam estar a estudar actualmente. Além disso, 55,3% afirmam ter realizado formação complementar nos últimos cinco anos, seja por iniciativa própria (40%) ou proposta pela instituição empregadora (15,3%).
Desde 1997, os jornalistas passaram a apostar muito mais na formação complementar, pois, em 1997, apenas 0,4% estavam a frequentar cursos de formação na sua área de actividade, aquando da realização do II Inquérito Nacional aos Jornalistas Portugueses.
O Cenjor (Centro Protocolar de Formação Profissional para Jornalistas) é a instituição de formação ou ensino a que os jornalistas portugueses mais recorreram para complementar os seus estudos. Dos que frequentaram acções de formação nos últimos 5 anos, 28,1% fizeram-no no Cenjor.
A diversidade de formações e entidades formadoras é bastante grande, com destaque para cursos organizados em instituições de ensino superior. A Universidade Nova de Lisboa, em especial na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, é a mais procurada para formação (8,7%), seguida do ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa (5,7%) e da Universidade de Lisboa (4,0%).
De destacar ainda que apenas 5,5% realizaram formações internas na entidade empregadora, nos últimos 5 anos, e que 3,8% realizaram cursos em diversos institutos de línguas. Apesar de pouco significativos em volume, há também procura por cursos de formação no estrangeiro, tanto presenciais, como em regime de e-learning.
O principal objectivo do estudo “Os jornalistas portugueses são bem pagos? Inquérito às condições laborais dos jornalistas em Portugal” é analisar as condições laborais dos jornalistas portugueses, conhecer a diversidade de percursos e perfis jornalísticos e identificar os principais constrangimentos e desafios que se colocam ao exercício da profissão de jornalista.
O inquérito é composto por 78 perguntas e foi respondido por quase 1600 jornalistas, entre 1 de Maio e 13 de Junho de 2016, tendo sido validadas 1491 respostas. A equipa de investigação do CIES-IUL é composta por Gustavo Cardoso, Joana Azevedo, Miguel Crespo e João Sousa.
Este é o sexto grande estudo sobre os jornalistas e a actividade jornalística em Portugal produzido no âmbito do CIES/ISCTE-IUL, depois das investigações lideradas por José Manuel Paquete de Oliveira, José Luís Garcia e José Rebelo, desde 1987.

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