Maioria dos jornalistas recebe menos de 1.000 euros por mês

Inquérito realizado pelo ISCTE, em parceria com o Sindicato dos Jornalistas será apresentado durante o 4.º Congresso dos Jornalistas.

Mais de metade dos jornalistas recebe recebe menos de 1000 euros líquidos por mês, conclui um inquérito realizado por uma equipa do CIES-IUL (ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa), em parceria com o Sindicato dos Jornalistas e o Obercom, e com o apoio da CCPJ.
Em 2016, 69% dos jornalistas recebiam entre 501 e 1.500 euros líquidos por mês, dos quais 23,3% recebiam entre 1001 e 1.500 euros, 23,9% entre 701 e 1.000 euros e 21,8% menos de 700 euros.
Se estabelecermos os 1.000 euros como ponto de divisão, verificamos que 57,3% dos jornalistas ganham menos, apesar de o rendimento mensal médio líquido ser de 1.113 euros.
Porém, 11,6% dos jornalistas recebem menos de 500 por mês e, desses, 7% nem sequer recebem 300 euros.
Só 19,4% dos jornalistas recebem mais de 1.500 euros mensais. Destes, 10,8% ganham até 2.000 euros, 3,6% até 2.500 euros e só 5% auferem um valor superior.
Estas são as primeiras conclusões sobre os rendimentos dos jornalistas, decorrentes do mais recente e abrangente inquérito já realizado em Portugal, respondido por quase 1500 jornalistas.
Dos jornalistas inquiridos em 2016, 87,5% encontravam-se a trabalhar, enquanto 7,9% estavam em situação de desemprego. Além destes, 2,2% estavam reformados e 2% em estágio (1,5% em estágio profissional e 0,5% em estágio curricular).
Em 2016, 33,4% dos inquiridos não tinham contrato fixo e, portanto, trabalhavam em condições contratuais precárias e sujeitos a instabilidade, insegurança e fragilidade. Este grupo integra colaboradores (16,4%), dos quais a maioria (8,8%) tinha uma avença e os restantes (7,6%) trabalhavam à peça, sendo que 17% dos profissionais se assumiram como freelancers.
Dois terços dos jornalistas inquiridos tinham contratos de trabalho: 56,3% com contrato sem termo e 10,5% a termo certo.
Os contratos de trabalho dos jornalistas em 2016 eram maioritariamente de 35 a 40 horas semanais (64,7%), mas 27,7% afirmam não saber a carga horária semanal prevista nos seus contratos.
A maioria dos jornalistas assumiu trabalhar mais de 40 horas por semana (13,8% têm uma semana laboral de 51 a 60 horas e 9% até trabalham mais de 60 horas).
Do grande número de jornalistas que trabalha mais horas do que o previsto no seu contrato, apenas 3,9% são remunerados pelas horas extraordinárias e 10,2% são compensados em tempo de descanso pelo trabalho extra. Quase dois terços do total (63,4%) não têm qualquer compensação pelo trabalho extraordinário, demonstrando uma elevada discrepância entre a carga horária contratualizada, a prática profissional efectiva e a remuneração devida.
Num mercado com elevada concentração, há 25,8% de jornalistas que prestam serviço para mais de um órgão de comunicação social dentro do mesmo grupo e, desses, mais de dois terços (66,8%) não recebem remuneração extra por esse trabalho.
A progressão na carreira dos jornalistas inquiridos parece quase impossível, pois mais 80 por cento não têm progressão há mais de 4 anos, mesmo nas empresas de comunicação social onde ela está prevista. Há mesmo 28,4% de jornalistas que não progridem na carreira há mais de uma década e mais 29,4% que têm a carreira congelada há pelo menos 7 anos. São 22,5% os que não progridem há 4 a 6 anos e 19,7% sem progressão na carreira há menos de 3 anos.
Quase dois terços dos jornalistas inquiridos (64,2%) já pensaram, pelo menos uma vez, abandonar a profissão. Dos que afirmam já ter equacionado o abandono, as motivações mais expressas são o baixo rendimento (21%), a degradação da profissão (20,4%) e a precariedade contratual (14,3%).
Uma grande percentagem de jornalistas inquiridos já passou pelo desemprego (39,2%), mas estão muito divididos quando à probabilidade de perderem o emprego no futuro próximo. Se 35,1% consideram que ficar desempregado é improvável, 40,9% acham provável, com 15,7% a afirmarem que é extremamente provável a curto prazo.
Apesar de a maioria dos jornalistas que já passou pela situação de desemprego ter conseguido regressar à profissão em menos de um ano, a percepção dos inquiridos acerca da probabilidade de voltar a encontrar emprego no jornalismo perante uma situação de desemprego em 2016 é muito pessimista.
O principal objectivo do estudo “Os jornalistas portugueses são bem pagos? Inquérito às condições laborais dos jornalistas em Portugal” é analisar as condições laborais dos jornalistas portugueses, conhecer a diversidade de percursos e perfis jornalísticos e identificar os principais constrangimentos e desafios que se colocam ao exercício da profissão de jornalista.
O inquérito é composto por 78 perguntas e foi respondido por quase 1600 jornalistas, entre 1 de Maio e 13 de Junho de 2016, tendo sido validadas 1494 respostas.
A equipa de investigação do CIES-IUL é composta por Gustavo Cardoso, Joana Azevedo, Miguel Crespo e João Sousa. Este é o sexto grande estudo sobre os jornalistas e a actividade jornalística em Portugal produzido no âmbito do CIES/ISCTE-IUL, depois das investigações lideradas por José Manuel Paquete de Oliveira, José Luís Garcia e José Rebelo desde 1987.
Os resultados globais serão apresentados no próximo dia 14, no âmbito do 4.º Congresso dos Jornalistas, que começa hoje, no Cinema São Jorge, em Lisboa.

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