Está consumado o Imoral despedimento coletivo em A Bola

Cerca de 20 jornalistas de A Bola vão ser notificados com uma carta de despedimento após o encerramento da Fase de Informação e Negociação do Despedimento Coletivo. É um eufemismo chamar-lhe fase de negociação e de informação, já que a empresa não deu explicações para a necessidade de ter de despedir. A frase mais vezes repetida foi ‘Informação não relevante para os presentes efeitos’.

Durante todo o processo, muitos dos profissionais de A Bola foram expostos a um desgaste tal que foram chegando a acordo para uma saída que sabiam ser irreversível, mas muitos dos jornalistas continuam a lutar para que as indemnizações compensatórias para a saída sejam justas, o que está longe de se verificar por a empresa não considerar salário o que é na realidade salário, por muito que a empresa tenha uma série de subsídios que mais não são do que salário, pagos 14 vezes ao ano.

A imoralidade do despedimento não fica ligada às contas que são feitas, mas à forma como a Ringier, que se apresenta como uma das maiores empresas do mundo na área da comunicação social, está a fazer o processo, contratando jornalistas ao mesmo tempo que despede jornalistas.

Em nenhum momento a empresa esclareceu como foi feita a escolha de quem fica e de quem sai. Nem sequer de que forma chegou à conclusão de que uns eram mais aptos que outros para a nova realidade que a Ringier quer implementar.

No processo de despedimento coletivo e na fase que deveria ser de negociação, a empresa não deu qualquer tipo de respostas, chegou a dizer que não contratou jornalistas, mas sim pessoas para ocuparem cargos de direção.

Não será difícil perceber que quem ocupa cargos de chefia e direção em qualquer órgão de comunicação social são os jornalistas, com carteira profissional, como exige a lei portuguesa. Por isso, sim, enquanto despede jornalistas (alguns deles com cargos de direção e chefia) contratam-se outros para os seus lugares.

Desta forma, acredita o Sindicato dos Jornalistas (SJ) que este processo está ferido de legalidade, até porque a empresa nunca explicou ao SJ por que razão não procurou a reconversão dos trabalhadores que foram despedidos, tendo em conta que com formação desempenhariam a sua função sem grandes dificuldades.

Não sabemos quem avaliou porque não nos foi dito, não sabemos as razões do despedimento de dezenas de trabalhadores porque não nos foram explicadas. O que sabemos é que no caso dos repórteres fotográficos foram todos despedidos (todos!), com exceção de um trabalhador que a empresa diz agora ser videógrafo.

Ora, um jornal não se faz sem fotografia, um site não se alimenta sem fotografia. O que fez a Ringier? Para o lugar dos trabalhadores despedidos vai recorrer a freelancers e comprar a agências os trabalhos fotográficos, não explicando a empresa se terá algum tipo de redução de custos.

Acrescente-se que durante a pandemia A Bola colocou dezenas de trabalhadores em lay-off, tendo por essa altura recebido do Estado português centenas de milhares de euros para garantir os postos de trabalho. Ora, a Ringier comprou, entretanto, o Jornal A Bola, A Bola TV, A Bola on-line e Autofoco e mesmo apresentando-se à empresa suíça como uma das maiores do mundo na área da comunicação social o primeiro ato de gestão foi despedir dois terços dos funcionários… 100 num universo de 150.

Finalmente, O SJ não pode deixar de estar também preocupado com as notícias que nos chegam da Roménia, onde 95 jornalistas romenos protestaram depois de a Ringier, proprietária da A Bola, ter intervindo na política editorial dos jornais de propriedade romena.

Os jornalistas do GPS e do Libertatea referem que recusaram os pedidos de alguns gestores da Ringier para mostrar antecipadamente os artigos sobre empresas de jogos de azar que são clientes publicitários e mostraram oposição à demissão do chefe de redação da Gazeta Sporturilor, Cătălin Ţepelin após este recusar mostrar o conteúdo desses mesmos artigos, tendo também feito uma exposição à Comissão Europeia por entenderem que foi condicionada a liberdade de imprensa.

Pouco depois a Comissão Europeia tomou posição sobre este assunto: «Vimos os relatos dos meios de comunicação social e estamos a acompanhar os debates sobre esta questão na Roménia. Como sabem, não fazemos comentários sobre casos individuais. Dito isto, gostaríamos de reiterar a nossa posição geral de que os meios de comunicação social devem poder operar livremente e de forma independente em qualquer parte da União Europeia – este princípio está no cerne da liberdade de imprensa».

Por tudo isto, o SJ vai pedir audiência ao Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa, ao Ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, que tutela a Comunicação Social e aos Grupos Parlamentares.

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