Debate aprofundado, precisa-se

O jornalista Avelino Rodrigues, membro da Direcção do Sindicato dos Jornalistas, resolveu intervir na polémica gerada pela candidatura de Alfredo Maia às eleições legislativas, fazendo publicar no Diário de Notícias de 7 de Fevereiro de 2002 um texto de opinião intitulado «Os jornalistas e a política».

Jornalista e membro da direcção do Sindicato, não posso deixar de pronunciar-me sobre a questão política e sindical suscitada pela inclusão do presidente do Sindicato dos Jornalistas nas listas de candidatura de um partido político às próximas eleições legislativas. O assunto merece um debate aprofundado, se não agora, que as emoções estão à flor da pele, talvez no próximo Congresso dos Jornalistas. Só que o debate já começou e vale a pena acreditar no pressuposto da boa-fé de todos, ou seja, que ninguém anda a aproveitar-se de um pretexto caído do céu e que a comunidade jornalística se encontra empenhada na defesa da solidariedade profissional, sobretudo neste período em que todos somos poucos para enfrentar a crise do sector. Para mim, já digo, a estrutura desta solidariedade é hoje o Sindicato. Aqui vão dez linhas para o debate. Não é um decálogo, é um primeiro alinhamento de ideias.

1. O jornalismo é a profissão mais política de todas, não contando com a dos políticos, que não é uma profissão.

2. Os jornalistas não são politicamente indiferentes, mas alguns assumem as suas opções publicamente e outros não.

3. Em democracia, os jornalistas não estão proibidos de pertencer a partidos legais. Só estão proibidos é de instrumentalizar a profissão, distorcendo a verdade.

4. O Sindicato dos Jornalistas é um sindicato unitário. Porque agrupa várias tendências e não por excluir a existência de tendências.

5. A coexistência de várias tendências tem sido uma riqueza da nossa vida sindical, mas o Sindicato não pode dar-se ao luxo de dispensar a experiência e a dedicação de militantes partidários.

6. O Sindicato dos Jornalistas tem conseguido assegurar a autonomia sindical e a democraticidade de acção, mas nunca exigiu nem pode exigir que os seus dirigentes abdiquem dos seus direitos políticos.

7. Como membro da direcção do SJ, testemunho que o Alfredo Maia transportou para o SJ uma experiência de militância que enriqueceu o trabalho sindical, sem nunca ter ferido a autonomia e a democraticidade do sindicato.

8. Como cidadão, defendo em democracia a compatibilidade entre as responsabilidades sindicais, mesmo ao nível de presidente, e a acção política, mesmo ao nível de integrante de uma lista partidária, mas não ao nível de deputado eleito ou elegível.

9. Suspeito que, se Alfredo Maia fosse candidato por outro partido que não o PCP, talvez nem se desse por isso ou não houvesse tantas críticas e tanto escândalo. No entanto as coisas são o que são e os factos sociais também são uma «coisa» e, por isso, eu teria preferido que Alfredo Maia não fosse candidato nestas circunstâncias.

10. Por isso também compreendo que alguns jornalistas tenham criticado o Alfredo Maia, mas só admito que o tenham feito por amor à pureza sindical e em defesa do prestígio do SJ.

Texto reproduzido com a autorização do autor

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