Congresso Europeu sobre Deficiência lança desafio aos média

Aumentar a visibilidade da pessoa com deficiência de modo a favorecer a sua inclusão social e promover uma imagem positiva que não seja baseada na caridade ou numa abordagem médica é o desafio lançado aos média pelo Congresso Europeu Sobre Comunicação Social e Deficiência. O Congresso decorreu a 13 e 14 de Junho, em Atenas, onde o Sindicato dos Jornalistas (SJ) se fez representar por Ilídia Pinto, membro da Direcção.

Do Congresso resultou uma declaração final na qual os participantes se dispõem a promover uma mudança de atitude no sector, combatendo preconceitos e estereótipos, e a estreitar laços com as organizações representativas.

Cerca de 300 jornalistas e representantes do sector da comunicação social, decisores políticos, associações de deficientes, académicos e especialistas em comunicação reflectiram sobre o modo com o sector aborda o tema, o retrato que faz das pessoas e a visibilidade que lhes concede.

A declaração final aponta ainda para a necessidade de promover e encorajar a cooperação estreita entre deficientes, as suas organizações e a comunicação social, e de aumentar o número de pessoas com deficiência com emprego no sector, designadamente como jornalistas, enquanto vectores fundamentais para promover uma mudança de atitudes. Para concretizar estes objectivos vai ser criado um comité pelo Fórum Europeu da Deficiência (EDF) em cooperação com as organizações nacionais e europeias de comunicação social, cujos membros serão oficializados em Outubro próximo.

A «invisibilidade» do cidadão com deficiência, apesar de corresponder a dez por cento da população, foi uma questão transversal em todas as intervenções do congresso, organizado pela Comissão Europeia e pelo Ministério grego da Saúde e Segurança Social (no âmbito da presidência da União Europeia), em estreita colaboração com a Confederação Grega das Pessoas com Deficiência e o Fórum Europeu da Deficiência.

Referindo que, de acordo com uma recente sondagem, mais de 57 por cento dos europeus admitem não estar bem informados sobre as várias formas de deficiência e que 40 por cento acreditam que «os outros» não se sentem à vontade perante um cidadão com deficiência, Donald Tait, da Comissão Europeia, lembrou o papel crucial da comunicação social neste domínio. «Há uma enorme parte da sociedade que está a ser ignorada e que constitui um potencial imenso de audiências», frisou.

Pior do que a invisibilidade, só mesmo o tratamento inapropriado do tema, que serve para promover ainda mais a exclusão social. A linguagem foi aliás um dos assuntos que mereceu maior discussão. «Falar de deficiência não é fácil», admitiu Carlo Romeo, relações públicas da Radiotelevisione Italiana (RAI). «Se os média não souberem transmitir uma notícia, por vezes o silêncio é preferível», defendeu. A resposta está na inclusão do cidadão com deficiência no meio jornalístico, defendeu Peter Radtke, administrador e editor-chefe de uma estação de televisão alemã e de uma produtora cinematográfica. «Estarmos a trabalhar no meio é a forma de diminuir o problema da linguagem», assegurou.

Já Elspeth Morrison, formadora da BBC no tema da deficiência, admite que a questão é tratada pela comunicação social de quatro formas apenas: triunfo sobre a adversidade, desenvolvimento de novas tecnologias médicas, histórias de caridade e deficientes em campanha pelos seus direitos. «Raras são as notícias em que o indivíduo aparece a falar de outra coisa que não a sua deficiência», alega.

Yannis Vardakastanis, presidente do EDF, defende mesmo o estabelecimento de um código de conduta sobre a forma como as pessoas com deficiência são apresentadas, seja em programas noticiosos ou de entretenimento.

Dos vários exemplos apresentados de integração da pessoa com deficiência no mercado de trabalho da comunicação social, destaque para a Servimedia, a agência de notícias pertencente à Fundação ONCE especializada em informação social. Dos 86 trabalhadores, 40 por cento têm algum tipo de incapacidade. Além da função de agência, a Servimedia montou um departamento de publicações e está a ajudar organizações a publicarem as suas revistas e boletins. Conta ainda com um departamento de comunicação cuja missão é colocar indivíduos com deficiência a contactar outros órgãos de comunicação social.

Discutido foi também o acesso à informação e entretenimento, sendo que as novas tecnologias promovem novas formas de exclusão e discriminação social. O acesso dos cegos à televisão tornar-se-à mais fácil com a TV digital, permitindo, inclusivamente, navegar na Net sem a necessidade de adquirir um computador em separado.

Fundamental, também, é aumentar o número de transmissões televisivas com audio-descrição (serviço de narração que permite acompanhar o desenvolvimento de um filme nos momentos em que não há diálogos), existente, ainda de forma limitada, no Reino Unido, Alemanha, França, Itália ou Holanda, mas totalmente inexistente em países como Portugal, Grécia ou Dinamarca. Objectivo assumido pelas organizações representativas da pessoa com deficiência é que 100 por cento dos programas sejam legendados já em 2010. Mais uma vez é o Reino Unido que dá o exemplo, assumindo-se como o país com maior uso de legendas, um recurso fundamental para os deficientes auditivos, e cuja inclusão «encarece em apenas um por cento um programa televisivo. mas cria uma indústria e empregos», sublinha Marcel Bobeldijk, da Federação Europeia de Surdos.

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