Bielorússia persegue jornalistas de etnia polaca

As autoridades da Bielorússia têm demonstrado nas últimas semanas uma crescente intolerância para com os jornalistas de etnia polaca, através de detenções, prisões e expulsões, acusam a Federação Europeia de Jornalistas (FEJ), o Comité para a Protecção dos Jornalistas (CPJ) e o Instituto Internacional de Imprensa (IPI).

Entre os vários casos registados, destaca-se o de Andrzej Pisalnik – chefe-de-redacção interino do “Glos znad Niemna”, o único jornal bielorusso impresso em polaco –, que a 4 de Agosto foi condenado a 10 dias de prisão, após um processo judicial que segundo os jornalistas bielorussos foi ilegal.

O jornalista, que também é colaborador do jornal polaco “Rzeczpospolita” e porta-voz da Sociedade de Polacos da Bielorússia (SPB), foi detido a 1 de Agosto, acusado de “participação em ajuntamento ilegal” – um concerto organizado pelo SPB a 3 de Julho.

Em protesto pela actuação das autoridades, Andrzej Pisalnik esteve três dias em greve de fome e, segundo Paval Mazheika, membro da Associação de Jornalistas da Bielorússia, não foram apresentadas em tribunal quaisquer provas de que o jornalista tenha violado a lei, o que não impediu o juiz de o condenar.

De acordo com o IPI, este ataque ao jornalista e ao “Glos znad Niemna” não é o primeiro, pois no final de Maio uma tipografia de Grodno recusou-se a imprimir o semanário e, em Junho, a mesma tipografia imprimiu duas edições falsas do título, com artigos que apresentavam a versão governamental num conflito com o SPB.

Neste último caso, Andrzej Pisalnik recorreu à polícia e aos tribunais, contestando a utilização ilegal do nome do jornal. Mais tarde, a 6 de Julho, o jornalista e vários colegas de redacção foram detidos – juntamente com Andrzej Poczobut, chefe-de-redacção da “Magazyn Polski”, e Ivan Roman, repórter do jornal “Solidarnost” – por protestos no centro de Grodno contra ataques às suas publicações.

Três semanas depois, a 27 de Julho, forças especiais da polícia e agentes à paisana entraram nas instalações da SPB e prenderam diversos jornalistas – entre os quais Andrzej Pisalnik –, e obrigaram-nos a passar duas horas em detenção.

Expulsões e proibições de entrada

A 6 de Agosto, o fotojornalista polaco Adam Tuchlinski, da revista semanal “Przekroj”, foi detido pela polícia bielorussa e acusado de não ter acreditação para trabalhar no país, sendo em seguida expulso e proibido de voltar a entrar na Bielorússia durante cinco anos.

O profissional de 25 anos estava na Bielorússia com um visto de turista e não é claro se realizou qualquer trabalho jornalístico enquanto esteve em Grodno, cidade onde reside uma grande comunidade polaca.

Adam Tuchlinski já havia sido detido pelo KGB bielorusso durante as eleições locais de Março último, juntamente com dois outros jornalistas polacos, por suposta falta de acreditação, tendo sido libertado após intervenção do cônsul polaco.

Igualmente a 6 de Agosto, Marcin Smialowski, um outro jornalista polaco que possuía um visto válido, foi impedido de entrar no país pelos guardas fronteiriços.

“Estamos preocupados com as acções restritivas tomadas contra os nossos colegas e pedimos às autoridades bielorussas que permitam que Adam Tuchlinksi e Marcin Smialowski trabalhem sem medo de represálias na Bielorússia”, disse Ann Cooper, directora-executiva do CPJ.

Mais contundente é o secretário-geral da FEJ, Aidan White, para quem “todos estes casos apontam para um padrão feio de intolerância e perseguição dos jornalistas que falam polaco, o que é piorado pela imposição de uma justiça de pantomina, aplicada por magistrados e polícias com pouquíssimo respeito pela lei e pelos direitos dos jornalistas”.

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