BBC vai investigar o que correu mal no caso Gilligan

O director-geral interino da BBC, Mark Byford, anunciou a 30 de Janeiro que a estação vai promover um inquérito interno independente ao que correu mal no caso Andrew Gilligan.

Este inquérito segue-se à demissão de dois dos principais responsáveis da BBC, o presidente Gavyn Davies e o director-geral Greg Dyke, na sequência da publicação do relatório Hutton, que ilibou o governo de Tony Blair de responsabilidades na morte do cientista David Kelly, acusando a rádio-televisão britânica de “falhas” e organização “deficiente” e o seu jornalista Andrew Gilligan de alegações “infundadas”.

A demissão de Gavyn Davies ocorreu a 28 de Janeiro, logo a seguir à divulgação do relatório, e a de Greg Dyke foi apresentada ao conselho de governadores no dia seguinte, depois do director-geral ter pedido desculpas em nome da BBC e confirmado que algumas das alegações de Gilligan eram falsas.

No entanto, em entrevista esta sexta-feira a uma cadeia de televisão britânica, o ex-director-geral da BBC disse estar chocado por o relatório Hutton ser tão “preto e branco” ao apontar a BBC e o jornalista Andrew Gilligan como únicos culpados e acusa o documento de estar “claramente errado” em alguns aspectos legais.

“Sabemos que cometemos erros, mas não fomos os únicos”, afirmou Greg Dyke, cuja demissão da BBC provocou uma onda de indignação entre os trabalhadores da rádio-televisão pública britânica.

Esta manifestação de desagrado foi motivada pela “interferência governamental na BBC”, segundo afirmou Jeremy Dear, secretário-geral do Sindicato Nacional de Jornalistas (NUJ), entidade que representa Andrew Gilligan no processo Hutton.

Considerando o relatório Hutton como “tão parcial que ofende o sentido básico de justiça”, o NUJ vê-o ainda como “uma séria ameaça ao futuro do jornalismo de investigação”.

Jeremy Dear afirmou ainda que o NUJ continua a apoiar os jornalistas da BBC, incluindo Andrew Gilligan, e espera que o conselho de governadores da empresa faça o mesmo, caso contrário terá de enfrentar “as acções que forem necessárias”.

“Estamos dispostos a tomar acções corporativas caso Andrew Gilligan seja despedido ou sofra um processo disciplinar. A sua investigação tinha interesse público e o pior resultado que o relatório Hutton poderia ter era intimidar os jornalistas perante as tentativas governamentais de controlo da agenda noticiosa”, afirmou o dirigente sindical.

Apesar de ter ganho a batalha no relatório Hutton, o governo de Tony Blair parece ter perdido a guerra contra a comunicação social, que a 29 de Janeiro acusava o relatório Hutton de ser um “branqueamento” do caso David Kelly.

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