Vinte e um jornalistas estão presos no Irão

A organização Repórteres Sem Fronteiras (RFS) denunciou que 21 jornalistas estão presos no Irão, em condições preocupantes, enquanto continuam por apurar as circunstâncias da morte, no início de Julho, da jornalista Zahra Kazemi.

“No espaço de um mês, pelo menos catorze jornalistas foram presos. As respectivas famílias e advogados não têm notícias da maior parte deles. Os que tiveram a sorte de ser libertados denunciaram as muito difíceis condições de detenção, as pressões psicológicas e os maus tratos a que foram sujeitos. Por outro lado, não podemos deixar de estar particularmente inquietos com o facto de metade deles se encontrarem nas mãos dos serviços do Procurador-Geral de Teerão, Said Mortazavi, e dos Guardas da Revolução, e no mesmo local onde Zahra Kazemi recebeu os golpes que a levaram à morte”, declarou Robert Ménard, secretário-geral da RSF.

Estas preocupações são partilhadas pela Federação Internacional de Jornalistas (FIJ) e por outras organizações internacionais e plenamente justificadas, como se comprova com a trágica morte de Zahra Kazemi.

No início de Julho, a repórter fotográfica irano-canadiana foi presa quando fotografava uma prisão onde tinham sido encarcerados vários estudantes contestatários. Enquanto se encontrava sob custódia policial foi espancada até ficar inconsciente. Zahra entrou em coma e acabou por morrer, vítima de hemorragia cerebral.

“Isto é uma tragédia e uma perda dolorosa”, afirmou então o secretário-geral da FIJ, Aidan White, exigindo “explicações às autoridades iranianas sobre o que sucedeu e de quem é a responsabilidade, e a garantia de que os responsáveis serão levados perante a justiça”.

Um mês depois, a morte de Zahra continua por esclarecer, e quase diariamente há outros jornalistas presos, notícias censuradas e jornais encerrados, sob a acusação genérica de “propaganda contra o regime e publicação de falsas informações”.

As detenções duram por vezes poucos dias, mas noutros casos os detidos “desaparecem”, como informa a RSF. É a situação de Iraj Jamshidi, chefe de redacção do diário económico “Ásia”, preso a 7 de Julho por “publicidade contra o regime”. Levado inicialmente para a prisão de Evine, em Teerão, foi depois transferido para um centro de detenção secreto. Ismail Jamshidi, director do mensário “Gardon”, foi igualmente preso a 7 de Julho e desde então a família não tem notícias dele.

Ainda segundo a RSF, desde 14 de Julho que as famílias e os advogados de Taghi Rahmani, do jornal “Omid-é-Zangan”; de Reza Alijani e de Hoda Saber, ambos do “Iran-é-Farda”, igualmente presos a 14 de Junho; e do jornalista «freelance» Amir Teirani, preso a 16 de Junho, provavelmente pelos Guardas da Revolução, não têm notícias deles.

No seu “Relatório Anual 2003”, divulgado em 26 de Março último, a RSF afirmava que “o Irão continua a ser a maior prisão do Médio Oriente com dez jornalistas atrás das grades”. Como se pode verificar pelos números de hoje, a situação agravou-se.

Na opinião da RSF, “apesar dos protestos contra os ataque à imprensa, o campo reformador foi incapaz de parar uma justiça que está nas mãos dos conservadores”.

Ainda segundo o relatório anual da RSF, “os conservadores, que dominam a instituição judicial, vêem nos média uma força que ameaça abalar os fundamentos do sistema islâmico e que por isso representa um perigo”.

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