A consulta pública sobre educação para os média, lançada a 6 de Outubro pela Comissão Europeia, foi o tema principal de uma reunião realizada a 23 de Outubro em Bruxelas entre a comissária europeia para a Sociedade da Informação e os Média, Viviane Reding, e chefias de oito jornais europeus, na qual estiveram presentes Henrique Monteiro, director do “Expresso”, e Helena Garrido, directora-adjunta do “Diário de Notícias”.
Em declarações a jornalistas.online.pt, Henrique Monteiro e Helena Garrido revelaram que um dos pontos mais interessantes da reunião foi a divergência entre os que têm uma perspectiva mais optimista da Internet – encarando-a como uma oportunidade para a imprensa – e aqueles que têm uma visão mais pessimista e a consideram como algo que pode afastar os mais jovens dos jornais.
Mais inclinados para o grupo dos optimistas, os dois jornalistas portugueses consideram que a Internet e outras novas tecnologias podem ser um complemento da imprensa, uma vez que desde que se mantenham os princípios deontológicos e éticos da profissão, os jornais podem reformular-se e conservar os leitores.
“Costumo dizer que no dia em que eu achar que o bom jornalismo não vende jornais, mudo de profissão”, disse o director do “Expresso”, para quem “a imprensa não pode ter uma atitude de protesto como a dos donos dos teatros quando surgiram os cinemas”, mas antes dar um valor acrescentado ao público, recorrendo para tal à criatividade, à competência e a um olhar mais atento dos seus profissionais sobre a sociedade.
Lamentando que não se tenha falado mais dos problemas relacionados com o motor de pesquisa Google e das cedências que este faz na China, por exemplo, Henrique Monteiro falou ainda do facto de ter sido abordado de forma lateral na reunião um assunto que está na ordem do dia em Portugal: os direitos de autor dos jornalistas.
A importância da educação para os média
A educação para os média diz respeito a todos os meios de comunicação, incluindo a televisão, o cinema, a rádio, a música, a imprensa, os videojogos, a Internet e outras tecnologias digitais de comunicação.
A facilidade de publicação permitida pelas novas tecnologias, faz com que sejamos cada vez mais bombardeados com informação, pelo que é fulcral possuir as capacidades de aceder, analisar e avaliar criticamente os dados que estão ao nosso dispor.
Segundo a comissária europeia, a educação para os média é também um suporte para a liberdade de expressão e para o direito à informação, ajudando a construir e sustentar a democracia e acabando com a necessidade de leis de protecção tão detalhadas, uma vez que uma sociedade educada para os média possui a capacidade de fazer os seus próprios julgamentos e escolhas.
“Hoje, a educação para os média é tão essencial para uma cidadania activa e plena como a literacia o foi no início do século XIX”, afirma Viviane Reding, para quem esta capacidade é também fundamental para “entra no novo mundo do conteúdo em banda larga, disponível em todo o lado e a toda a hora”.
Por forma a descobrir as melhores formas de fomentar essas capacidades, a Comissão Europeia elaborou um questionário de 15 perguntas com quatro partes: uma com questões gerais acerca da educação para os média e as outras sobre iniciativas e projectos na área das comunicações comerciais, dos trabalhos audiovisuais e do mundo online.
Quem quiser pode dar o seu contributo até 15 de Dezembro, respondendo ao questionário disponível em inglês, francês ou alemão no sítio http://ec.europa.eu/comm/avpolicy/media_literacy/consultation/index_en.htm
Os objectivos da Media Task Force
O objectivo da Media Task Force que está à responsabilidade de Viviane Reding é monitorizar todas as propostas da Comissão Europeia numa fase preliminar e garantir que o seu impacto junto da imprensa é devidamente tido em conta, uma vez que “a liberdade jornalística e uma sólida base económica são elementos indispensáveis para que jornais e revistas possam prosperar na era multimédia”.
A reunião de 23 de Outubro foi a segunda que a comissária europeia para a Sociedade da Informação e os Média convocou para um diálogo de alto nível com representantes da imprensa escrita, convidando, além de responsáveis dos jornais portugueses “Expresso” e “Diário de Notícias”, responsáveis do jornal finlandês “Helsingin Sanomat”, do alemão “Westdeutsche Allgemeine Zeitung”, do italiano “La Stampa”, do polaco “Polityka”, do luxemburguês “Luxemburger Wort” e do britânico “The Times”.
Na primeira reunião, realizada em Outubro de 2005, editores de jornais e revistas da Áustria, Dinamarca, Lituânia, Luxemburgo, Malta, Países Baixo, Espanha e Reino Unido abordaram os desafios da era digital para o futuro das publicações em papel, como a passagem para o online, a digitalização de conteúdos e o aumento da competição nos mercados publicitários.