Um dever de solidariedade

O apoio concedido pelo Sindicato dos Jornalistas à formação, instalação e desenvolvimento da organização congénere de Timor Leste, insere-se numa linha de continuidade expressa desde há muitos anos em várias campanhas de solidariedade com o povo timorense, na defesa do seu direito à autodeterminação.

O Sindicato dos Jornalistas (SJ) tem estado a apoiar a estruturação, a instalação e o desenvolvimento da actividade do Sindicato dos Jornalistas de Timor Lorosa’e (SJTL). Um apoio solicitado pelos camaradas jornalistas timorenses, alguns dos quais trabalharam em Portugal e foram sócios do SJ. É uma acção que se inscreve na linha de solidariedade que o SJ manteve com a longa e sofrida luta do povo de Timor Leste pelo direito à autodeterminação.

A solidariedade do SJ, dos seus corpos sociais e da maioria dos seus associados, ganhou visibilidade no início dos anos 90 quando deu patrocínio institucional à agência de publicidade Young & Rubicam Portugal para a produção e divulgação do anúncio conhecido por “Laranja”.

O anúncio apelava ao boicote à Indonésia como destino de férias e a ocupação de Timor Leste era simbolizada por uma laranja a ser espremida para um copo, num ambiente exótico de praia. O anúncio correu mundo e ganhou, em 1992, o Leão de Prata do Festival de Cinema Publicitário em Cannes, na categoria de Serviço Público.

Dois outros anúncios denunciando a opressão sofrida em Timor Leste obtiveram vários prémios, particularmente em 1997. Também produzidos pela Young & Rubicam Portugal, os anúncios integravam-se numa campanha contra o consumo de produtos fabricados na Indonésia desencadeada em Portugal pelo SJ.

Um dos anúncios apresentava os pés dum cadáver, num dos quais estava uma etiqueta “Made in Indonesia”. O outro, conhecido por “Código de Barras”, tinha um código de barras transformado nas grades de uma prisão, acompanhadas pelas palavras “Made in Indonesia”. Este anúncio ganhou importantes prémios em vários concursos: Festival de Cannes, The New York Festival, Festival de Gramado (Brasil), Festival Clio Award e Festival Ibero Americano da Publicidade.

O “Código de Barras” foi também estampado em t-shirts, usadas por imensas pessoas em inúmeras acções de apoio à resistência timorense em Portugal e outros países da Europa.

Em Setembro de 1999, aquando da terrorista reacção à escolha da independência para Timor Leste no referendo de 30 de Agosto, o SJ participou activamente, a par doutras organizações, na organização de manifestações de solidariedade com o povo de Timor Leste e reclamando a intervenção das Nações Unidas no território.

Paralelamente, em colaboração com a Federação Internacional de Jornalistas, incentivou jornalistas de todo o mundo a manterem a opinião pública mundial informada sobre o que acontecia em Timor Leste e prestou todo o apoio possível aos profissionais que se encontravam no território a trabalhar em condições de risco.

Os caricaturistas e cartoonistas tiveram, então, um papel importante nas manifestações de apoio à independência de Timor Leste. Estes profissionais abdicaram dos direitos de autor sobre as suas obras relacionadas com Timor Leste permitindo que o SJ as colocasse na sua página na Internet à disposição de quem as quisesse utilizar em qualquer parte do mundo. Alguns profissionais estrangeiros aderiram à iniciativa e colocaram as suas obras junto das dos portugueses.

Mais de 150 originais de caricaturas e cartoons foram reunidos numa grande exposição, no Parque das Nações, em Lisboa, organizada em colaboração com a Humorgrafe. Xanana Gusmão visitou-a em 2 de Outubro de 1999 e deixou a seguinte mensagem: “A crítica da pena na sua forma artística, exprimindo tão bem as situações dramáticas em T-L, revela magnificamente a preocupação dos caricaturistas portugueses. Obrigado, Xanana”.

Da Galiza viajaram até Lisboa, em dois fins-de-semana, caricaturistas e cartoonistas que se juntaram aos seus camaradas portugueses para, ali, na exposição, caricaturarem quem o desejasse, a troco de uma contribuição para Timor Leste.

As obras expostas foram reunidas num catálogo, denominado “Caricaturistas por Timor”, e várias delas foram também incluídas numa edição especial do antigo jornal “Sempre Fixe”, que foi distribuído com edições do “Diário de Notícias” e do “Jornal de Notícias”. As vendas destas publicações geraram fundos também destinados a financiar acções de reconstrução e desenvolvimento em Timor Leste, nomeadamente no sector da Comunicação Social.

São verbas desse fundo de solidariedade que o SJ tem canalizado para a assistência financeira à organização do Sindicato dos Jornalistas de Timor Lorosa’e (SJTL), nomeadamente para as despesas de constituição, de instalação e de equipamento.

O apoio do SJ é também de carácter técnico, nos planos sindical e de regulamentação do sector da Comunicação Social. O SJ participou na elaboração dos projectos de Estatutos do SJTL e da sua Declaração de Princípios. Actualmente, está a colaborar nos projectos de um Código Deontológico e de um Estatuto do Jornalista. É uma cooperação que o SJ entende como um dever de solidariedade para com os camaradas de Timor Leste e que se desenvolverá de acordo com as solicitações do SJTL.

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