Subdirectora da RAI demite-se por falta de pluralismo na estação

Daniela Tagliafico, subdirectora do principal programa informativo da RAI 1, demitiu-se da estação em protesto contra a falta de pluralismo na televisão pública italiana e a forma como se manipula a informação para favorecer o governo e desacreditar a oposição de centro-esquerda.

Antes de sair, a jornalista denunciou a existência de “indicações” na RAI para colocar as declarações dos líderes da oposição no princípio ou no meio das de responsáveis do governo, de modo a que estes tenham sempre a última palavra.

A jornalista criticou ainda a censura ou tratamento breve que é dado a assuntos desfavoráveis ao governo, bem como o privilegiar de temas relacionados com o consumo e o ócio, em detrimento dos problemas que afectam os italianos.

O principal alvo das acusações é o director de informação, Clemente Mimun, próximo da Forza Italia, que chegou à RAI vindo da Mediaset, o império de comunicação de Silvio Berlusconi.

Na sequência da demissão de Daniela Tagliafico, trinta jornalistas da estação divulgaram um documento de solidariedade com a ex-subdirectora, subscrevendo as suas críticas e considerando intolerável a continuação da presente situação. “A RAI 1 deve ser património comum de todos os contribuintes italianos, não apenas de uma parte”, afirma-se no documento.

Também a Federação Nacional da Imprensa Italiana (FNSI) se pronunciou sobre este caso, qualificando a situação na estação pública como “devastadora” e sublinhando que o programa de informação mais visto pelos italianos não pode continuar a favorecer o governo, especialmente em vésperas de uma campanha eleitoral.

Recorde-se que, em 2002, três dos cinco membros do conselho de administração da RAI – dois da oposição e um centrista – se demitiram por considerarem que a emissora se pautava pela falta de pluralismo e ausência de liberdade informativa.

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