SJ apela à reflexão sobre limites da publicidade

O Sindicato dos Jornalistas (SJ) considera que a campanha publicitária que tingiu de azul algumas páginas das edições de 28 de Setembro dos jornais diários, ao servir de suporte gráfico à informação jornalística, “põe em causa, de forma ínvia, o princípio da clara separação entre publicidade e informação”.

Segundo o SJ, em comunicado hoje divulgado, é “chocante a submissão dos órgãos de comunicação ao recurso publicitário utilizado”, já que o fundo azul da referida campanha se prolonga por “páginas estritamente editoriais”, agravando o “risco de confusão entre conteúdos jornalísticos e mensagem publicitária”.

Dada a gravidade do caso, o SJ faz “um apelo veemente” às direcções dos jornais, aos conselhos de redacção e aos provedores dos jornais para que “encetem uma reflexão séria sobre os limites da publicidade”.

É o seguinte o texto, na íntegra do comunicado do SJ:

Não há limites às pressões da publicidade?

1. A generalidade dos jornais diários apareceu hoje ao público com as primeiras, últimas, segundas e penúltimas páginas impressas sobre fundo azul, no âmbito de uma campanha publicitária de uma empresa que, aliás, vem claramente mencionada através do respectivo logotipo.

2. Não estando em causa o recurso do anunciante à generalidade dos jornais, é, no entanto, chocante a submissão dos órgãos de comunicação ao recurso publicitário utilizado, que chega ao ponto de colocar a mensagem publicitária subliminar como suporte gráfico à informação jornalística. Esta submissão põe em causa, de forma ínvia, o princípio da clara separação entre publicidade e informação.

3. O risco de confusão entre conteúdos jornalísticos e mensagem publicitária agrava-se quando o referido fundo azul se prolonga por páginas estritamente editoriais (primeiras, segundas e penúltimas) e já sem menção à entidade anunciada, contribuindo para aprofundar a ideia – que vai grassando – de que não há já limites à pressão da publicidade e do marketing.

4. Se é relativamente frequente a opção editorial deste ou daquele jornal por imprimir este ou aquele trabalho em negativo (fundo negro, ou de outra cor) e os leitores aceitam que alguma razão jornalística plausível a determinou, dificilmente se aceitará ter havido, nas edições em causa, uma coincidência maciça pela mesma opção, pela mesma cor e pela cor que suporta a mesma mensagem publicitária!

5. Este episódio, mais grave do que outros anteriores, nos quais a concepção publicitária tende a condicionar opções editoriais, designadamente em termos de paginação, justifica um apelo veemente do SJ às direcções dos jornais, aos conselhos de redacção e aos provedores dos jornais para que encetem uma reflexão séria sobre os limites da publicidade.

6. Ao suscitar esta reflexão, o SJ não pretende conduzir qualquer cruzada contra uma actividade importante para o sector da comunicação social, mas contribuir para que se acautelem limites, se preserve a autonomia editorial e não se hipoteque a credibilidade do Jornalismo.

Lisboa, 28 de Setembro 2005

A Direcção

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