Sindicato solidário com Acácio Franco

Perante a demissão pela Prodiário do editor de fotografia do jornal 24 Horas, num acto que assume características de retaliação pelo facto de Acácio Franco se ter recentemente demarcado dos responsáveis pela 1.ª página em que se incitava ao linchamento de dois suspeitos de um crime, cujas fotos eram reproduzidas, o Sindicato dos Jornalistas e o Conselho Deontológico emitiram um comunicado conjunto em que se solidarizam com o jornalista demitido.

1. O Sindicato dos Jornalistas acaba de ter conhecimento da demissão, pela Administração da Prodiário, do editor de fotografia do jornal 24 Horas, Acácio Franco, em virtude de uma alegada quebra no dever de lealdade, traduzida na cedência, por este, de uma foto de arquivo sua, ao jornal Correio da Manhã, que a publicou, sublinhe-se, com a referência correcta quanto à autoria e origem, assinando-a com a menção «Acácio Franco/24 Horas».

2. A cedência da referida foto pelo seu autor e também editor de fotografia do jornal em que trabalha integra-se não só numa prática de camaradagem entre fotojornalistas muito antiga e bastante saudável, mas também numa relação de reciprocidade entre o 24 Horas e outras publicações.

3. Com efeito, o jornal 24 Horas, em razão do prestígio profissional do seu editor tem conseguido suprir algumas falhas – até do seu próprio arquivo, necessariamente menos fornecido do que outros jornais, dada a sua juventude – obtendo junto de outras publicações – incluindo o Correio da Manhã – a cedência de imagens que têm suportado mesmo manchetes.

4. O Sindicato dos Jornalistas que, como se sabe, se tem batido pela defesa dos direitos de autor dos jornalistas sobre os seus textos, imagens e desenhos, considera que tal prática, uma vez solidariamente adquirida entre os repórteres de imagem e uma vez garantido o reconhecimento da autoria das imagens permutadas, merece ser registada como contributo para a defesa de valores que muito transcendem a importância relativa da concorrência.

5. O Sindicato não ignora, porém, que a medida administrativa desencadeada contra o jornalista Acácio Franco ocorre poucos dias após a sua recusa em subscrever um abaixo-assinado contra o Conselho Deontológico (cujo presidente verberara os termos em que o 24 Horas tratou, na primeira página, a alegada perseguição a dois presumíveis suspeitos de um homicídio na Damaia) e nas críticas que produziu relativamente a práticas operacionais da edição do jornal.

6. Na verdade, a manchete «São estes os sacanas», com a fotografia de dois indivíduos cujo envolvimento no crime da Cova da Moura não estava provado, e o incitamento ao seu linchamento através da exortação «Apanhem-nos!», sendo da responsabilidade do director, configuram uma prática editorial que não é nem jornalística, nem rigorosa, nem ética, nem deontológica.

7. A Redacção do 24 Horas, que reuniu há uma semana com a presença de membros da direcção do Sindicato dos Jornalistas e do Conselho Deontológico, está disposta a continuar a bater-se pelo jornalismo, pelo rigor e por todas as boas práticas da profissão, considerando que estas nunca colocam em causa os objectivos editoriais ou empresariais dos jornais com a linguagem do 24 Horas — bem antes pelo contrário.

8. Não deve agora a Direcção do jornal, ou as administrações do universo Portugal Telecom, protagonizar perseguições aos jornalistas que defenderam a sua profissão e — ponto relevante — os interesses da empresa para que trabalham, batendo-se com coragem pela sua qualidade e pela conquista da confiança dos leitores.

9. Como espera que a Direcção do 24 Horas, a Administração da Prodiário e a Administração do Grupo Lusomundo/Portugal Telecom continuem a respeitar a liberdade de expressão e o direito de exprimir a opinião, bem como a de considerar valioso, para a própria empresa, o património da excelência das relações de camaradagem dos seus jornalistas, o Sindicato dos Jornalistas confia em que a medida agora tomada seja revista com urgência.

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