RSF classifica 2003 como ano mortífero para a imprensa

O ano de 2003 é tido pela Repórteres Sem Fronteiras (RSF), num relatório agora divulgado, como “um ano negro”, com 42 jornalistas assassinados, 766 detidos, mais de 1460 agredidos ou ameaçados e cerca de 500 órgãos de comunicação censurados.

Comparando com o ano anterior, a RSF alerta para o aumento do número de jornalistas mortos (em 2002 foram 25), presos (692 em 2002), agredidos ou ameaçados (1420 em 2002) e médias alvo de censura (389 em 2002) e sublinha que a 1 de Janeiro do presente ano 124 jornalistas estavam detidos em todo o mundo.

A Ásia e o Médio Oriente foram as regiões com maior número de jornalistas assassinados, 16 cada uma, mas no que se refere às agressões físicas (609), detenções (187) e censura (193), os países asiáticos lideram isolados.

A Europa é o único continente onde, de acordo com o relatório da RSF, não teve lugar o assassinato de qualquer jornalista, muito embora tenham ocorrido 226 casos de agressão física, 132 encarceramentos e 69 situações de censura.

A RSF chama a atenção para o facto de não se assistir a um número tão elevado de jornalistas assassinados desde 1995 (com 49) e salienta que a cobertura de conflitos tem vindo a tornar-se cada vez mais perigosa para os repórteres de guerra.

A guerra no Iraque e o conflito israelo-palestiniano são apontados pela Repórteres Sem Fronteiras como cenário da maior parte das mortes de jornalistas no Médio Oriente, enquanto Arábia Saudita, Síria, Irão, Jordânia, Iémen e a Autoridade Palestiniana arcam com a responsabilidade pelos muitos casos de censura.

Na Ásia, a violência contra jornalistas no Bangladesh, as detenções no Nepal e a censura na China e na Birmânia são as notas de destaque da RSF, que na América Latina assinala um agravamento da situação em Cuba, onde foram presos líderes da imprensa independente .

No que se refere ao continente africano, a organização demonstra preocupação com a degradação das condições de trabalho, mesmo em países tidos como bons exemplos, caso do Senegal ou do Níger, e aponta o dedo a regimes autoritários como o de Robert Mugabe, no Zimbabué.

Dando nota positiva à União Europeia (UE), o documento abre uma excepção para Itália, lembrando que as posições de Silvio Berlusconi, primeiro-ministro e empresário dos média, configuram uma ameaça ao pluralismo noticioso e informativo.

Os países da Europa Central têm vindo, de acordo com a RSF, a enfrentar leis de difamação duras e arcaicas, ao passo que na Sérvia-Montenegro e na Roménia a situação é algo instável, com os jornalistas romenos a enfrentar problemas crescentes nas suas investigações na área da corrupção ou quando existe alguma crítica ao partido no poder.

No relatório anual da RSF há um capítulo inteiro – intitulado “Internet sob Vigilância” – que aborda a censura e as detenções relacionadas com a divulgação noticiosa ou informativa por meio digital. A Repórteres Sem Fronteiras sublinha que a China permanece, de longe, “a maior prisão” de utentes de Internet, com 48 detidos a 1 de Janeiro deste ano, seguindo-se o Vietname com nove “ciberdissidentes”.

Nesta área, a RSF critica ainda o comportamento das Maldivas (com três detidos), Birmânia, Coreia do Norte, Cuba (onde referências a actividades na Internet integram as acusações a jornalistas encarcerados), Arábia Saudita, Tunísia, Uzbequistão e Turquemenistão.

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