Queixa sobre notícia publicada pelo Jornal Fórum Covilhã

Conselho Deontológico

Queixa nº 13/Q/2023

Critérios noticiosos – João Morgado vs Vítor Aleixo, do Jornal Fórum da Covilhã

No passado dia 25 de fevereiro, o Conselho Deontológico do Sindicato dos Jornalistas recebeu uma denúncia  de João Morgado, sobre a qualidade da notícia acerca  da tomada de posse dos novos órgãos sociais da Mutualista Covilhanense, publicada no passado dia 26 de janeiro pelo Jornal Fórum Covilhã.

  1. A denúncia

João Morgado, que se identifica também como presidente da Assembleia-Geral da Mutualista Covilhanense, questiona o facto de o Jornal Fórum Covilhã não fazer qualquer referência aos novos membros daquela associação ou ao conteúdo das intervenções efetuadas durante a tomada de posse. Ao invés, a notícia dá destaque à presença de figuras oficiais bem como ao grupo musical que “abrilhantou o evento”.

Segundo ainda a informação que nos foi prestada, o Jornal Fórum da Covilhã limitou-se a pedir aos serviços de comunicação da Mutualista Covilhanense imagens sobre a tomada de posse dos órgãos sociais, alegando que a notícia seria feita com base nos sons da rádio local, suprindo deste modo o facto de não estar na cerimónia da tomada de posse nenhum jornalista daquele meio de comunicação.

João Morgado, numa denúncia em 8 pontos,  evoca o seu passado de jornalista e de formador do Cenjor – Centro Protocolar de Formação Profissional para Jornalistas para tecer várias considerações acerca da qualidade da notícia. Na sua perspetiva o texto não atende às “regras mínimas, mínimas, mínimas do jornalismo”, perguntando-se como pode alguém com carteira profissional “efectuar e publicar este tipo de trabalho”,   “ser ‘director’ de um jornal”, bem como ser “responsável por uma equipa de jornalistas e estagiários”.

  1. Procedimentos

Na sequência dos problemas levantados, o Conselho Deontológico do Sindicato dos Jornalistas decidiu endereçar ao diretor do Jornal Fórum da Covilhã, Vítor Aleixo, duas perguntas sobre os seguintes aspetos considerados relevantes:

1)     Se confirmava ter solicitado junto dos serviços de comunicação da Mutualista Covilhanense as imagens do evento, alegando que faria a notícia com base nos sons da rádio local.

2)     Quais os critérios noticiosos usados na redação da referida notícia que se limita a nomear a presença de figuras exteriores à Mutualista Covilhanense, sem qualquer referência aos membros dos novos corpos sociais ou a intervenções proferidas na ocasião?

  1. Resposta do diretor do Jornal Fórum da Covilhã

No dia 30 de março, Vítor Aleixo respondeu ao Conselho Deontológico, num texto também em oito pontos, onde, no essencial, refuta as acusações de João Morgado. Nomeadamente, refere que o Jornal Fórum da Covilhã não tentou sonegar informação acerca da Mutualista Covilhanense, adiantando que na edição 543 (página 7), antes mesmo da eleição dos novos corpos sociais, entrevistou o presidente da instituição, tendo sido “o primeiro órgão de comunicação da região a falar e a escrever sobre os projetos para o mandato”. Acrescenta o diretor do Jornal Fórum da Covilhã que, aquando do ato eleitoral, foram realizados “alguns apontamentos”  sobre a eleição e, posteriormente, foram divulgados “os projetos que a associação vai desenvolvendo”, em conformidade com a política de informação seguida “com as outras agremiações”.

Sobre a cobertura da tomada de posse dos novos órgãos sociais da Mutualista Covilhanense, Vítor Aleixo responde do seguinte modo às questões acerca dos critérios de seleção dos acontecimentos e de tratamento da informação, objeto da crítica de João Morgado:

“No dia antes da tomada de posse que foi um ato simbólico, pois já tínhamos falado do que interessava antes, dos projetos, da equipa, das ambições para o mandato, etc., liguei à responsável pela comunicação, onde lhe solicitei uma fotografia do evento, e uma nota. Depois do evento a associação colocou a nota nas suas redes sociais, e tal como outros órgãos de comunicação fizeram, pegámos na nota de imprensa e com a fotografia que nos foi enviada fizemos uma breve notícia, apenas e só para dar conta do momento, porque dos projetos já tínhamos falado durante duas edições anteriores; Tudo de boa-fé” [sic].

Na sua resposta, Vítor Aleixo não responde diretamente à questão quanto ao recurso à rádio local para elaboração dos dados complementares em falta, resultantes da não presença de um jornalista no acontecimento. No entanto, deixa a entender que essa situação foi suprida pela nota disponibilizada pelos serviços de comunicação da Mutualista Covilhanense nas redes sociais.

Acrescenta ainda Vítor Aleixo: “Quanto às acusações de que sonegamos informação, não é verdade, reproduzimos quem esteve presente, porque entendemos que até prestigiava a associação referindo-se que estiveram na tomada de posse todas as entidades locais e outras que se deslocaram de fora. Até porque o [que] aqui interessava era assinalar que a direção já tinha tomado posse. Numa edição fizemos a entrevista e falámos sobre os projetos, noutra falámos mais sobre a equipa, nesta interessava apenas dar nota que a direção tinha sido reeleita e tomado posse, até porque a instituição tem quase uma vintena de pessoas que pertencem aos órgãos sociais, e a própria associação não nos deu nota sobre os nomes, nem na nota que divulgou à imprensa, nem posteriormente. Porquê? Porque o mais importante é o trabalho que se desenvolve e não quem toma posse, até porque são dezenas de pessoas. Ou seja, limitamo-nos a informar sobre o que tínhamos, até porque a informação mais importante já a tínhamos dado antes das eleições (…)” [sic].

Finalmente, o diretor do Jornal Fórum da Covilhã apresenta um conjunto de considerações onde explica, documenta e lamenta os motivos da denúncia apresentada ao Conselho Deontológico do Sindicato dos Jornalistas. No entanto, o Conselho Deontológico considerou que não se deveria deter nessas considerações, uma vez que não fazem parte do núcleo central da denúncia apresentada.

  1. Análise

A denúncia apresentada por João Morgado contra o Jornal Fórum da Covilhã, em particular contra o seu diretor Vítor Aleixo, está fora do âmbito estrito do Código Deontológico. Poder-se-á, no entanto, argumentar que pela forma como a notícia está redigida compromete as questões referentes ao ponto 1, quando se fala sobre o dever de  “relatar os factos com rigor e exatidão”. Um leitor, que não tenha acompanhado a cobertura noticiosa anterior, e apenas se tenha ficado pela leitura desta edição do Jornal do Fórum da Covilhã, talvez possa estranhar a ausência de alguns elementos noticiosos essenciais que contribuiriam para uma informação completa. Mas, efetivamente, não se pode sustentar que houve intenção de sonegar informação ou prejudicar a Mutualista Covilhanense.

Em rigor, a sonegação da informação também não parece ter sido objeto da denúncia de João Morgado. Tal como a entendemos, João Morgado denuncia a qualidade do jornalismo patente na seleção dos factos noticiados e na forma de redação da notícia.

Vítor Aleixo, ao contrário do que refere João Morgado, não é jornalista mas equiparado a jornalista (TE724), num órgão de comunicação reconhecido pela ERC e em que, de acordo com a Ficha Técnica, é proprietário, diretor e faz parte da redação com outro profissional cujo nome, pelas buscas por nós efetuadas, não consta na Comissão da Carteira Profissional de Jornalista (CCPJ), nem como jornalista, nem como equiparado a jornalista, tão-pouco como colaborador.

  1. Deliberação

O Conselho Deontológico considera que as questões constantes da denúncia de João Morgado não são do foro estrito da deontologia jornalística, uma vez que incidem sobre a qualidade profissional dos jornalistas no  tratamento da informação num órgão de comunicação social. Embora a exigência de qualidade do tratamento da informação seja um direito de todos os cidadãos, considera o Conselho Deontológico que as questões relativas à Liberdade de Expressão aconselham que situações como as que foram legitimamente denunciadas por João Morgado devem ser dirimidas pelo livre mercado dos leitores.

Das questões levantadas pela denúncia, existem algumas que suscitam dúvidas ao Conselho Deontológico, nomeadamente no que toca ao correto funcionamento da redação do Jornal Fórum da Covilhã. Por isso, decidiu o Conselho Deontológico remeter este parecer à consideração da Comissão da Carteira Profissional para apreciação dos factos considerados pertinentes.

Lisboa, 14 de abril de 2023

O Conselho Deontológico

Partilhe