Presidente da RAI demite-se por falta de pluralismo na empresa

A presidente da RAI, Lucia Annunziata, anunciou a 4 de Maio a sua demissão da televisão pública italiana, como forma de “sublinhar que as limitações ao pluralismo interno foram longe demais e que o Conselho de Administração funciona em condições de ilegitimidade”.

Garantindo que a sua decisão é irrevogável e efectiva a todos os níveis, Lucia Annunziata pretende assim protestar contra a ingerência governamental no Conselho de Administração (CdA) da RAI, o qual “foi transformado num pé de microfone, que só serve para ratificar decisões tomadas noutros locais”, denunciou a presidente demissionária, numa clara alusão ao governo de Silvio Berlusconi.

Desde a sua nomeação para a direcção da RAI, há 14 meses, Lucia Annunziata tem criticado regularmente o presidente do Conselho, tendo mesmo afirmado que este aproveitava todas as oportunidades para aparecer na TV e fazer política, a propósito da participação de Berlusconi, enquanto presidente do AC Milan, num programa desportivo da RAI.

No entanto, a gota que fez transbordar o copo veio do director-geral da RAI, Flavio Cattaneo, que propôs uma série de nomes-chave para a gestão da empresa, em 18 páginas escritas à mão e sem respeitar as três horas de pré-aviso previstas nas regras internas da RAI.

“Com estes nomes e este método, muda-se radicalmente a estrutura da empresa e os seus dirigentes: é um acto que comporta a anulação de todas as formas de autonomia e pluralismo, em prejuízo de pelo menos metade do Parlamento e da metade do país que essa metade representa. Todos os poderes ficam concentrados nas mãos de uns poucos fiéis à coligação de governo”, afirmou a jornalista.

Já antes, a aprovação da lei de reforma do audiovisual (Lei Gasparri) tinha agravado a situação interna na RAI, uma vez que o diploma abre caminho à privatização da RAI e modifica a composição do conselho de administração.

Actualmente com cinco membros, o CdA passará a ter nove elementos, designados pelos accionistas, neste caso o Estado. Deste modo, os administradores deixam de ser escolhidos pelos presidentes das duas câmaras do Parlamento, o que sempre dava representatividade à oposição.

A este propósito, o presidente da Federação Nacional da Imprensa Italiana (FNSI), Franco Siddi, criticou o facto da televisão pública ser cada vez menos dos italianos e mais dos partidos, os quais “encaram a RAI como prémio de guerra das forças vencedoras, e o Conselho de Administração como forma de projecção partidária”.

Em reacção aos acontecimentos internos, o sindicato de jornalistas da RAI (Usigrai) convocou uma manifestação pública para esta tarde, às 17 horas, em frente às instalações da estação, e deu os parabéns a Lucia Annunziata por se ter demarcado claramente do CdA.

A saída da presidente segue-se às demissões da jornalista e apresentadora Lilli Gruber, em protesto pelas incidências no canal decorrentes do conflito de interesses de Silvio Berlusconi, e de Daniela Tagliafico, subdirectora de informação do TG1, o principal telejornal da RAI, contra o favorecimento da coligação de governo na informação política.

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