Mais de mil pessoas despediram-se de Anna Politkovskaya

Entre familiares, amigos e admiradores, foram mais de mil as pessoas que acompanharam, dia 10 de Outubro, o funeral da jornalista russa Anna Politkovskaya, assassinada no prédio onde residia.

A jornalista, de 48 anos, foi morta a tiro no dia 7, aparentemente por um assassino contratado, havendo fortes suspeitas de que na origem do crime esteja o seu trabalho jornalístico, que incluiu várias investigações à acção da Rússia na Chechénia e críticas ao presidente russo Vladimir Putin.

Recentemente, Anna Politkovskaya fez uma reportagem sobre raptos e tortura na Chechénia, pelos quais culpava o primeiro-ministro pró-russo daquela região, Ramzan Kadyrov.

O assassinato da repórter, que trabalhava para o jornal “Novaya Gazeta”, veio realçar os riscos que correm os jornalistas russos independentes e críticos e colocar em questão a liberdade de imprensa no país.

“Era uma repórter infinitamente honesta… cada facto que apresentava era baseado numa investigação. Era também uma mediadora e uma activista dos direitos humanos. Era uma pessoa de confiança, era única”, disse Alexei Venediktov, chefe de redacção da rádio russa Ekho Moskvy, à agência noticiosa Associated Press.

Outros jornalistas que conheceram de perto o seu trabalho afirmaram que se tratava de uma mulher corajosa que se aventurou pelas aldeias chechenas não apenas para recolher material para as suas reportagens, mas também para ajudar as pessoas em dificuldades, chegando a agir sozinha quando outras formas de auxílio tardavam.

“Anna viveu e morreu de forma heróica”, salientou a propósito Lyudmila Alexeyeva, activista dos direitos humanos.

À cerimónia fúnebre não compareceu qualquer alto representante do Kremlin, tendo estado presente o embaixador dos Estados Unidos William Burns, que disse esperar que “esta morte trágica conduza a um maior respeito pela liberdade de expressão e pela importância de procurar a verdade e a justiça”.

A fria reacção das autoridades oficiais russas à morte da jornalista fora já evidente pelo facto de o presidente Vladimir Putin só se ter pronunciado sobre o crime três dias depois da ocorrência e apenas para dizer que ia ser realizada uma investigação.

A investigação foi entregue ao procurador-geral Yuri Chaika, mas os colegas de profissão de Anna Politkovskaya duvidam do sucesso do inquérito, tendo os responsáveis do jornal “Novaya Gazeta” decidido levar a cabo averiguações paralelas, oferecendo para já 25 milhões de rublos (736 mil euros) de recompensa a quem facultar informações que ajudem a desvendar o crime.

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