Justa homenagem a João Mesquita

“Profissional exemplar, cidadão consequente com as suas convicções e sindicalista coerente com os seus princípios morais e profundamente dedicado às causas da classe” – assim se refere o Sindicato dos Jornalistas (SJ) ao camarada João Mesquita, na sentida nota divulgada a 12 de Março assinalando o seu desaparecimento.

O documento lembra que o camarada de profissão agora desaparecido dedicou a sua vida às causas em que acreditava e à defesa do jornalismo e dos jornalistas, sublinhando ser justo destacar “como homenagem a quem prestou tão relevantes serviços ao Sindicato e à classe que este serve, que João Mesquita não perdeu esse derradeiro combate, pois a gratificante memória que nos deixa do que foi – como cidadão, como profissional e como sindicalista – mostra que é possível continuar a lutar por um futuro mais justo e mais fraterno”.

É o seguinte o texto, na íntegra, da Nota da Direcção do Sindicato dos Jornalistas:

O último combate do João Mesquita

A Direcção do Sindicato dos Jornalistas recebeu com grande consternação a notícia da morte do jornalista João Mesquita, antigo presidente da Direcção e do Conselho Geral do SJ, profissional exemplar, cidadão consequente com as suas convicções e sindicalista coerente com os seus princípios morais e profundamente dedicado às causas da classe.

Dotado de uma generosidade abnegada e de uma infinita solidariedade, João Mesquita percorreu um exaltante caminho de vida orientado pelo sentido da fraternidade, de cuidada atenção aos problemas dos que o cercavam, de resistência às injustiças e às ofensas aos direitos das pessoas, de fecunda intervenção cívica e política, de participação desinteressada nos combates a que generosamente se entregou ao longo da vida.

Nascido em Coimbra em 3 de Junho de 1957, João Mesquita foi um empenhado activista nas causas em que acreditou desde a sua juventude, tendo iniciado a profissão em Março de 1979 no jornal “Voz do Povo”. Trabalhou, depois, no vespertino “Notícias da Tarde” (1982), onde se destacou como repórter parlamentar, transitando para o “Jornal de Notícias” (1985) e, posteriormente (1988), para o “Semanário”, de onde saiu para integrar a Redacção fundadora do “Público (1989), tendo permanecido neste jornal até 1993. Trabalhou, depois, no diário “As Beiras” (até 1994), no semanário “Independente” e em “A Capital”, de onde saiu em Novembro de 2003*. Como freelance, manteve colaborações com várias publicações, nomeadamente o semanário “Expresso”.

Durante os últimos anos, João Mesquita combateu com intensa coragem e lucidez profunda um cancro pulmonar que teimava em tolher os passos que desejava dar no seu percurso de homem bom e solidário. Podemos dizer com orgulho que esteve com as causas dos jornalistas até ao limite das suas forças, mesmo quando estas minguavam. Há uma semana, foi um dos 119 primeiros subscritores do manifesto público contra o despedimento colectivo/selectivo na Controlinveste.

Eleito para a Direcção do SJ, primeiro como secretário (1984), depois como presidente (1989), cargo que ocupou até 1993, João Mesquita, que também foi presidente do seu Conselho Geral (1993 e 1998), deu ao Sindicato e à classe um conjunto de contributos de vital importância para a nossa organização e para os jornalistas em geral, mesmo quando já não exercia funções nos seus órgãos. São de destacar:

A enorme acuidade na observação de novos fenómenos, como o crescimento da imprensa regional e o aparecimento das rádios locais, bem como a pertinência na resposta aos problemas a eles ligados, designadamente a formação dos seus profissionais e a necessidade de descentralizar a acção sindical, tendo promovido e dinamizado uma série de encontros regionais;

A preocupação com a formação dos jornalistas, designadamente ao nível da formação universitária especificamente em Jornalismo, tendo sido um activista essencial da criação do Curso de Jornalismo da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra – o primeiro com esta designação;

O denodado combate ao projecto de criação de uma Ordem de jornalistas, defendendo, durante uma longa campanha e com sacrifício pessoal, as ideias basilares da liberdade de associação e da rejeição da ingerência do poder político na forma de organização e de governo da classe, e logrando alcançar o sufrágio maioritário dos jornalistas nas posições do SJ que tão empenhadamente defendeu;

O seu empenhamento no conjunto de debates e reflexões sobre a última revisão do Estatuto do Jornalista promovido pela Direcção do SJ, no qual participou sempre com a vivacidade das suas ideias e convicções e disponibilidade para ouvir as dos outros;

A sua companhia solidária e as suas intervenções nas reuniões e encontros realizados pelo Sindicato para organizar a resistência contra a extinção da Caixa dos Jornalistas;

A sua participação activa no Encontro de Jornalistas Freelance e Precários e a colaboração decisiva que emprestou às tarefas que se lhe seguiram, designadamente as missões do Grupo de Trabalho para esta área entretanto criado.

No dia da morte que infelizmente se anunciava, é justo assinalar, como homenagem a quem prestou tão relevantes serviços ao Sindicato e à classe que este serve, que João Mesquita não perdeu esse derradeiro combate, pois a gratificante memória que nos deixa do que foi – como cidadão, como profissional e como sindicalista – mostra que é possível continuar a lutar por um futuro mais justo e mais fraterno. É também justo envolver nesta homenagem a sua mulher, a nossa camarada Clara Vasconcelos, igualmente credora da nossa admiração.

Lisboa, 12 de Março de 2009

A Direcção

*Março de 2002, na versão original, erro pelo qual pedimos desculpa. Corrigido em 14/MAR/09

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