Jornalistas coreanos em tribunal por revelarem escutas ilegais

A procuradoria de Seul decidiu levar a tribunal dois jornalistas que revelaram escutas telefónicas ilegais realizadas na década de 1990. Enquanto isso, os envolvidos na corrupção política denunciada pelas escutas não serão acusados por o seu crime já ter prescrito.

Os jornalistas acusados de violar a lei da confidencialidade das comunicações são Lee Sang-ho, repórter da estação televisiva MBC, e Kim Yeon-kwang, editor do mensário “Chosun”. O escândalo das escutas foi exposto em Julho pela MBC e desde então Lee Sang-ho foi interrogado várias vezes pela procuradoria, enquanto Kim Yeon-kwang foi questionado apenas durante duas horas a 7 de Dezembro.

O julgamento de ambos os profissionais pode começar logo no início de 2006, sendo esta a primeira vez que jornalistas são acusados ao abrigo da referida lei, que prevê até dez anos de prisão para quem a infrinja.

“Sempre coloquei o direito do público à informação acima do respeito por uma lei de informação confidencial que foi adoptada pelo mesmo governo que levou a cabo estas milhares de escutas ilegais”, afirmou Lee Sang-ho, que no início de Dezembro recebeu um prémio da Transparency International pelo seu papel activo no combate à corrupção.

Toda esta situação mereceu o protesto da Repórteres Sem Fronteiras (RSF), que já instou o ministro da Justiça Chun Jung-Bae a rever as conclusões publicadas pela procuradoria a 14 de Dezembro, por considerar que estas “violam a liberdade de imprensa que está garantida pela Constituição” da Coreia do Sul.

“Contávamos saber os nomes dos 75 jornalistas cujos telefones foram ilegalmente escutados, mas ao invés o procurador só se interessou pelos jornalistas que revelaram o caso”, criticou a RSF, classificando de “grotesco” o branqueamento de quem ordenou as escutas e de quem foi responsável pela corrupção revelada por estas.

Ao todo, os serviços secretos escutaram ilegalmente, entre 1993 e 1997, 5400 pessoas, entre as quais 75 jornalistas, tendo as escutas revelado, por exemplo, que o antigo presidente do partido conservador da oposição recebera 10 milhões de dólares da Samsung.

A exposição do escândalo fez com que o antigo responsável pelo serviço de escutas “Mirim”, Kong Un-yeong, tentasse cometer suicídio, encontrando-se actualmente detido.

Já preso, condenado a 14 meses de prisão, está William Park, empresário coreano-americano que foi a fonte de Lee Sang-ho neste caso e que antes de revelar o escândalo à imprensa havia tentado chantagear a Samsung com a informação que possuía.

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