Há textos longos demais?

O tamanho dos textos está directamente relacionado com o interesse dos leitores por uma boa história ou é o tédio que faz com que o público interrompa a leitura? A interessante polémica pode ser acompanhada no «site» do Poynter Institute: www.poynter.org/centerpiece/070601.htm. Texto de Mário Rui Cardoso.

Haverá um tamanho ideal para um artigo de jornal, acima do qual a sua leitura integral torna-se fastidiosa e virtualmente impossível? Por muito que se discuta, dificilmente esta será uma questão geradora de consenso. Até porque não há uma resposta de sim ou não. Um artigo de página inteira, lido no combóio, a caminho do emprego, será ou não longo dependendo do tempo que a viagem durar e, claro, do interesse do artigo na óptica de quem o lê. E que dizer do tamanho dos artigos num semanário, quando este é lido tranquilamente no sofá?

A questão começou, no entanto, a ser objecto de uma discussão na publicação «American Editor», da Sociedade Americana de Editores de Jornais, tendo o debate sido suscitado por um artigo de Clark Hoyt, responsável em Washington do grupo editorial Knight Ridder (publica 32 jornais diários nos EUA). Hoyt abriu a contenda com um texto intitulado «As Histórias Longas Estão a Matar os Jornais», asserção que, obviamente, não podia ficar isenta de uma boa querela. Apoiado nos resultados de um inquérito realizado junto dos leitores das publicações Knight Ridder, Hoyt afirma que o sentimento mais comum, entre quem lê jornais, é o de que a generalidade dos jornalistas americanos perde-se no que é acessório, redundante, destituído de verdadeiro interesse, acabando por se criar um sentimento de prejuízo no leitor, por escassez de histórias curtas, acutilantes, directas ao assunto. Clark Hoyt garante, com alguma graça, que até os jurados nos prémios de Jornalismo abandonam os artigos a meio. E conta o caso de um jurado que, uma vez, a meio do elogio a um artigo que resolvera premiar, exclamou: «e quase acabei de o ler!»

Contra a opinião de Clark Hoyt insurgiu-se Roy Peter Clark, investigador na área de comunicação, no Poynter Institute. Recorrendo a um tom combativo, Roy Peter rejeita os argumentos de Hoyt, contrapondo-lhes a ideia de que não há limite de caracteres para uma boa história. «O tédio é o verdadeiro assassino de um artigo de jornal», diz Roy Peter Clark. Entretanto, já vários leitores juntaram contributos a esta discussão, que pode ser acompanhada no «site» do Poynter Institute: www.poynter.org/centerpiece/070601.htm

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