Greve deixa RTVE praticamente vazia

A greve que ontem, 5 de Abril, teve lugar na estação pública espanhola RTVE deixou as instalações da empresa quase vazias, com os sindicatos a avançarem valores entre 85 e 90 por cento de adesão ao protesto e a empresa a reconhecer pouco mais de 60 por cento de grevistas.

Apesar disso, as emissões da rádio e da televisão públicas não foram muito afectadas, pois a direcção da RTVE optou por colocar no ar programação previamente gravada, tendo como únicos directos os espaços informativos que estavam previstos pelos serviços mínimos que foram requisitados pelo governo de José Luis Zapatero.

Também sem problemas decorreu a transmissão do jogo Barcelona–Benfica, cujo interesse público decretado pelo governo tinha sido contestado pelo sindicato Comisiones Obreras (CCOO), mas que foi considerado válido pelo Supremo Tribunal.

Contudo, a polémica em torno deste jogo pode não ter ficado por aqui, pois a RTVE entregou a responsabilidade da transmissão à UEFA, que por seu turno a delegou numa produtora estrangeira, o que, segundo fontes sindicais referidas pelo diário “El Mundo”, viola o direito à greve e poderá ter consequências a nível europeu.

Perguntas que ficam no ar

Satisfeito com a adesão a este protesto contra o corte de mais de três mil postos de trabalho, equivalente a cerca de 40 por cento da equipa que actualmente trabalha na RTVE, o Sindicato de Jornalistas de Madrid (SPM) deixou no ar várias perguntas.

Como é que uma parte mínima das redacções trabalha e se emite 70 por cento do tempo de um boletim informativo? Como é que o governo decreta informativos completos e considera “essencial” um jogo de futebol, seguindo uma doutrina questionável de “interesse geral”? Não será mais importante ter uma radiotelevisão pública estatal forte, diversa, de qualidade, com meios e equipa adequados e profissionais qualificados?

O SPM criticou ainda a atitude da direcção da RTVE, que suspendeu o Telediario 1 – o telejornal da hora de almoço – 14 minutos depois deste ter começado, devido a protestos dos trabalhadores às portas do estúdio onde o informativo era gravado.

SJ solidário

O Sindicato dos Jornalistas (SJ) português manifestou a sua solidariedade com a greve na RTVE, em mensagem dirigida a todas as organizações sindicais de jornalistas de Espanha, nomeadamente à Federação dos Sindicatos de Jornalistas (FeSP) e aos seus sindicatos autónomos, assim como da CCOO e da UGT.

O SJ afirma, na mensagem, que “as ameaças são as mesmas em toda a Europa. As estratégias e as tácticas podem variar, mas os objectivos dos patrões dos média e também das empresas públicas são os mesmos: destruir os direitos dos trabalhadores, reduzir a autonomia dos jornalistas, menosprezar o direito à informação. É uma ofensiva brutal que exige uma resposta forte e solidária de todos os jornalistas europeus, unidos nas suas organizações nacionais e na Federação Europeia de Jornalistas”.

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