A concentração da propriedade dos meios de informação, a crescente precariedade das relações de trabalho, e os obstáculos à livre circulação dos jornalistas foram alguns dos temas abordados pelo Presidente do Sindicato dos Jornalistas (SJ), Alfredo Maia, na sessão pública de anúncio da criação da Federação de Jornalistas de Língua Portuguesa (FJLP), realizada hoje, com a presença do Secretário Executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.
A assembleia, em que participam organizações de jornalistas de Angola,Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e S. Tomé e Príncipe, começou por aprovar o relatório da Comissão Ah Hoc da Federação de Jornalistas de Língua Portuguesa, a que se seguiu um período de informação sobre a situação profissional dos jornalistas e as condições para o exercício da profissão nos vários países.
Os trabalhos prosseguiram da parte da tarde com a sessão pública de anúncio da criação da FJLP. Na cerimónia participaram, entre outros, o Secretário Executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), Simões Pereira; o Director do Cenjor, Fernando Cascais; o Presidente do Conselho Deontológico, Orlando César; e o Presidente do Conselho Geral, José Carlos Vasconcelos.
Coube ao Presidente do SJ, Alfredo Maia, lembrar o longo caminho percorrido para se chegar à criação da FJLP e os problemas que os jornalistas enfrentam num mundo cada vez mais globalizado, onde a “concentração da propriedade dos meios de informação, que está na origem de um clube restrito de grupos económicos que controla todas as grandes publicações, as televisões e as principais rádios não representa apenas o domínio da capacidade de recolher, tratar e difundir informação e um enorme poder de intervenção no espaço público”, mas também o “controlo do mercado do trabalho dos jornalistas e outros trabalhadores, estabelecendo e impondo as regras sobre quem entra, quem permanece e quem sai das empresas, que é como quem diz da profissão”.
Na sua intervenção – que se publica em anexo -, Alfredo Maia sublinhou a necessidade urgente de “organizar e globalizar a resistência” a esta situação, nomeadamente através da “criação, manutenção e expansão de organizações internacionais fortes, coesas, activas e influentes, que dêem força às organizações filiadas, projectem os seus problemas e as suas lutas para fora das suas fronteiras e lhes emprestem a voz junto dos poderes e organismos internacionais”.
É neste contexto que surge a FJLP, disse, que é de “jornalistas de língua portuguesa e reflecte as realidades e os projectos de uma comunidade concreta, perspectivando uma efectiva cooperação, desinteressada e fraterna, assente na complexa história comum das pátrias onde nos foi dado nascer e no património linguístico partilhado por 225 milhões de falantes do Português”.
O Secretário Executivo da CPLP, por seu turno, agradeceu o facto de a CPLP se poder “sentir parte” desta iniciativa e sublinhou a importância de serem os próprios jornalistas a “fazer o diagnóstico” do que deve ser feito, no âmbito da Comunidade, para ultrapassar problemas que se colocam à cooperação dos profissionais da comunicação social lusófona.
Na sua intervenção – publicada em anexo –, e respondendo a uma questão colocada pelo Presidente do SJ sobre os obstáculos que se colocam à livre circulação dos jornalistas, Simões Pereira reconheceu que, embora a “livre circulação seja uma questão que interessa a todos” e que “todos estão empenhados em resolver”, subsistem “implicações ao nível interno dos estados que é preciso resolver”.
Um primeiro passo foi dado com a criação da Assembleia Parlamentar, em Abril de 2009, disse, um novo passo está a ser dado com a criação da FJLP, importando agora conjugar esforços para “sensibilizar os decisores políticos”.
Na sessão interveio ainda Messias Constantino, Presidente da AJECO, dizendo que o “dia 5 de Dezembro de 2009 marca um ponto de viragem na relação dos jornalistas de língua portuguesa”, pois com a formação da FJLP abre-se um “espaço de diálogo, intercâmbio e cooperação” entre os profissionais dos média dos países lusófonos.
Afirmando que a Federação quer ser “um parceiro privilegiado da CPLP”, Messias Constantino manifestou a esperança de que, juntas, as duas organizações possam influenciar os estados para a implementação de órgãos de comunicação para a lusofonia.