Ética, unidade e criatividade são fundamentais

Ser eticamente correcto, unir esforços com colegas para fazer face aos problemas de sobrevivência económica no sector e captar imagens invulgares e criativas foram as receitas para ter êxito no meio apontadas pelos jurados do Prémio Fotojornalismo Visão/B

A questão da criatividade e da importância de contar histórias foi realçada por Susan Smith, directora-adjunta de fotografia da “National Geographic”, que apresentou exemplos de reportagens tocantes realizadas por diversos fotógrafos para a sua revista, com temas que vão das focas-leopardo da Antárctida aos soldados feridos no Iraque, passando pelos problemas da caça furtiva de elefantes para obter marfim.

“Na fotografia de natureza, mais do que uma imagem bonita de um espécime, valorizamos questões comportamentais, atitudes invulgares dos animais, pois isso revela conhecimento do assunto”, afirmou a única mulher que integrou o júri deste ano do Prémio Fotojornalismo Visão/BES.

Revelando que algumas reportagens publicadas pela revista exigem mais de três meses de trabalho de campo por parte dos fotojornalistas, seguido de duas a três semanas de edição em conjunto com a equipa fixa da “National Geographic”, Susan Smith frisou que a publicação está sempre em busca de novos talentos, que tenham um olhar pessoal sobre o tema tratado e boa qualidade técnica.

É preciso sobreviver para contar a história

A qualidade técnica é um tema com que um fotojornalista que esteja a trabalhar numa zona de conflito só se pode preocupar a posteriori, pois, “quando se está num cenário de guerra, a prioridade é sobreviver, como acontece com qualquer ser humano, e a edição das fotos fica sempre para depois”, frisou o francês Noël Quidu, que cobriu conflitos no Haiti e na Libéria.

A este propósito, Jean-François Leroy recordou que a falta de segurança tem sido um dos grandes problemas da profissão nos últimos anos, destacando pela negativa a situação no Iraque, onde, em cinco anos, o número de jornalistas mortos já superou as duas centenas, revelando-se mais mortífero do que toda a Guerra do Vietname, que decorreu entre 1959 e 1975.

Por seu turno, o russo Yuri Kozyrev, que fez a cobertura de guerras na Chechénia, no Afeganistão e no Iraque e fotografou ainda o massacre na escola de Beslan, em 2004, destacou a importância de respeitar a dignidade dos fotografados, dando como exemplo os militares feridos, que “evitam ser captados pelas objectivas para não causarem sofrimento aos seus familiares e amigos”.

A missão ética do fotojornalista

A manutenção da dignidade humana foi também sublinhada pelo australiano Philip Blenkinsop, para quem “a primeira responsabilidade que se tem num cenário de conflito é humana, é ajudar alguém que precise”. Se tal se revelar impraticável, o fotojornalista pode dar uma ajuda indirecta, registando a imagem para que esta sirva como prova.

Foi para prestar essa ajuda indirecta que o fotógrafo da agência Noor se aventurou nas florestas do Laos para captar os Hmong, um povo que lutou sob o comando da CIA durante a Guerra do Vietname e que, desde a retirada norte-americana, em 1975, tem sido perseguido e massacrado, com o silêncio cúmplice da comunidade internacional.

“Fomos os primeiros brancos que este povo viu em décadas e, quando os encontrámos, eles ajoelharam-se e pensaram que os tínhamos ido salvar”, relatou, emocionado, e reconhecendo que ainda não se sente preparado para fazer um livro sobre os Hmong, uma vez que a falta de reacção diplomática à sua reportagem, sobretudo nos EUA, leva-o a pensar que tal “não iria ajudar a salvar aquelas pessoas”.

A importância da união

Encarando a sua profissão como uma missão, Philip Blenkinsop afirmou que os seus primeiros tempos como fotojornalista freelance foram duros e que só quando se juntou a uma agência fotográfica – a Vu – sentiu uma mudança no que respeita a oportunidades de ver o seu trabalho publicado.

Foi esse sentimento de que a união faz a força entre fotojornalistas que o levou a avançar – juntamente com Yuri Kozyrev e outros sete repórteres de imagem que pensam de forma idêntica – com a Noor, a qual define como “uma agência de causas”.

Sublinhando que o objectivo dos fundadores da Noor é unir esforços para continuar a fazer trabalhos de reportagem por convicção, Philip Blenkinsop aconselhou todos os fotojornalistas e aspirantes a fotojornalistas presentes na sala a “nunca venderem a sua integridade” e a “fazerem a história à sua maneira”, pois esse esforço poderá um dia fazer a diferença e abrir-lhes uma porta.

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