Dois anos de muito trabalho no SJ , salienta Acácio Barradas

Acácio Barradas, ao tomar posse como presidente da Assembleia Geral do Sindicato dos Jornalistas (SJ), salientou não caber “aos corpos gerentes legitimamente eleitos qualquer culpa no facto de não terem tido rivais e de estarem aqui, neste momento, a ser investidos (ou reinvestidos) nas funções que, durante os próximos dois anos, irão ocupar o melhor das suas capacidades”.

O novo presidente da Mesa de Assembleia Geral do SJ lembrou que “a vida sindical não se faz só de grandes projectos e de importantes realizações. Muito do trabalho duro é anónimo e ingrato, sem direito a aplausos e outras manifestações de reconhecimento”. Contudo, esse “esforço de rotina não deve impedir ou embaraçar a realização dos projectos de maior vulto, que aliás são os únicos que fazem História”, como, entre outros, a realização do 4.º Congresso dos Jornalistas Portugueses, a criação da Casa do Jornalista e da Federação dos Jornalistas de Língua Portuguesa.

“Em nome desses projectos, da realização desses sonhos de grandeza”, Acácio Barradas apelou à Direcção para que se esforce em “encontrar, dentro e fora dos corpos gerentes, entre os sócios mais antigos e os mais novos, gente à altura de colaborar na sua materialização”.

É o seguinte, na íntegra, o texto da intervenção de Acácio Barradas:

Nós, jornalistas, sofremos a deformação profissional que nos leva a privilegiar o bizarro, o inesperado, o surpreendente, em prejuízo do que é automático, habitual, previsível.

Sendo assim, este acto de posse afigura-se um desastre… como notícia. Não se trata de um autêntico render da guarda, porque a maioria dos protagonistas que chega… já estava. Não se trata de uma verdadeira transferência de poderes, porque tais poderes praticamente não mudam de mãos. Trata-se, quando muito, de um jogo de xadrez, em que algumas peças mudam de posição, sendo poucas, muito poucas (e por isso mesmo valiosas), as que entram pela primeira vez no jogo, renovando-o.

Sucede que não houve disputa eleitoral, porque uma só lista se apresentou ao eleitorado. E deste modo a classe não teve que dividir apoios para escolher os futuros dirigentes. Mesmo assim, houve umas largas centenas de jornalistas que não se abstiveram de votar, ainda que uma significativa percentagem o tenha feito… em branco.

Que ilações retirar de tudo isto?

Haverá quem encare as coisas pela negativa, considerando que os tempos são de indiferença ou até de hostilidade em relação ao Sindicato e não vão de feição para o recrutamento de novos dirigentes, pois as tarefas sindicais exigem enormes sacrifícios sem outra compensação que não seja a de servir o bem comum. E haverá quem veja tudo pela positiva, admitindo que a falta de competição eleitoral significa que a classe se revê no trabalho realizado e aposta mesmo na continuidade, não encontrando motivos que a mobilizem para o esforço de mudança.

Talvez a verdade esteja na síntese das duas conjecturas. Em todo o caso, não cabe aos corpos gerentes legitimamente eleitos qualquer culpa no facto de não terem tido rivais e de estarem aqui, neste momento, a ser investidos (ou reinvestidos) nas funções que, durante os próximos dois anos, irão ocupar o melhor das suas capacidades.

Estou crente que assim vai ser e, sem desprimor para os demais, permito-me declarar que por um deles eu ponho as mãos no fogo, certo de que não esmorecerá a sua generosa entrega a este Sindicato. Refiro-me ao presidente da Direcção, Alfredo Maia, que há vários anos tem sido, com prejuízo da sua vida profissional e familiar, um exemplo de dedicação sem limites à luta sindical, sendo digno do maior apreço dos jornalistas, sindicalizados ou não, pois em defesa de todos tem travado ao longo dos tempos inúmeras batalhas, muitas delas vitoriosas.

Mas (há sempre um mas…) se é verdade que o Sindicato tem à frente da sua Direcção um homem dotado de uma capacidade excepcional, é cada vez mais necessário que as suas tarefas do dia-a-dia sejam progressivamente descentralizadas, a fim de que, finalmente, possa dedicar-se aos grandes projectos que, desde há vários anos, são recorrentemente inscritos como objectivos programáticos sucessivamente adiados.

Entre esses projectos, proponho-me salientar:

– a inadiável realização do 4.º Congresso dos Jornalistas Portugueses, para que é urgente nomear desde já um núcleo de arranque para a futura comissão executiva, à qual caberá livremente a organização do evento

– a revisão dos Estatutos (cuja proposta foi elaborada há mais de três anos!, ainda eu era vice-presidente da Direcção) com vista a modernizar e descentralizar a acção do Sindicato

– a criação da Casa do Jornalista, sonho de há muitos anos que continua a marcar passo, talvez por falta de uma comissão permanente tripartida (formada pelo Sindicato, Casa da Imprensa e Clube de Jornalistas) que tenha por finalidade o arranque decisivo que ponha em marcha o projecto

– a criação da Federação dos Jornalistas de Língua Portuguesa, mediante o arranque das diligências que visem pôr de pé esta estrutura representativa dos jornalistas de todo o espaço lusófono

– e, por fim, mas não por último, reforçar a informação sindical, nomeadamente através da reanimação do «site» www.jornalistas.online.pt, de forma a que o mesmo corresponda às ambições com que há anos o concebi, como fonte de informação, ponto de encontro, reflexão e debate de todos os jornalistas portugueses e das suas estruturas mais representativas

A vida sindical não se faz só de grandes projectos e de importantes realizações. Muito do trabalho duro é anónimo e ingrato, sem direito a aplausos e outras manifestações de reconhecimento. Mas se é certo que esse trabalho obscuro e constante é indispensável e não pode ser sacrificado aos grandes empreendimentos, não menos certo é que o esforço de rotina não deve impedir ou embaraçar a realização dos projectos de maior vulto, que aliás são os únicos que fazem História.

É em nome desses projectos, da realização desses sonhos de grandeza, que faço um apelo à Direcção agora empossada, certo de que será capaz de encontrar, dentro e fora dos corpos gerentes, entre os sócios mais antigos e os mais novos, gente à altura de colaborar na sua materialização.

Lisboa, 21 de Dezembro de 2004

Acácio Barradas

Partilhe