Conselho de Redacção da Lusa denuncia “cedência” a pressões do Governo

O Conselho de Redacção (CR) da agência Lusa, em comunicado emitido a 6 de Fevereiro, considera que o processo respeitantes às notícias e desmentidos sobre a instalação da Internet de banda larga em todas as escolas públicas do país indicia um caso de “cedência” a pressões governamentais.

“Analisando todo o processo, o CR considera que o mesmo indicia situações de cedência a pressões do Governo, traduzida na difusão das referidas notícias”, afirma o comunicado divulgado à redacção após uma reunião de várias horas com a directora de Informação, Deolinda Almeida.

O caso teve origem numa investigação levada a cabo por três jornalistas da Lusa, da qual terá resultado a constatação de que as declarações do primeiro-ministro sobre a instalação da Internet de banda larga em todas as escolas públicas do país não correspondia à realidade.

A notícia, assinada pelas três jornalistas e publicada pela agência a 31 de Janeiro, dava conta de que nem todas as escolas estavam equipadas com tal sistema mas viria a ser substituída por uma “nova versão” que contrariava por completo a primeira.

A versão “corrigida”, da autoria do editor da secção Nacional, António Caeiro, citava uma fonte anónima do Ministério da Ciência para garantir a existência de banda larga em todas as escolas. De acordo com o CR é “inaceitável que se corrija uma notícia citando uma fonte não identificada”.

Fundamentando a sua conclusão de que houve “envolvimento do Governo” em todo este processo, o CR da Lusa refere que a assessora do ministro do Ciência, Dulce Anahory, telefonou a uma das três jornalistas envolvidas no caso dizendo-lhe que a notícia seria “corrigida” por uma das fontes que anteriormente havia confirmado que nem todas as escolas estavam equipadas com banda larga, e que a agência iria receber, por telefone, “uma série de desmentidos”.

Apenas uma fonte, no entanto, fez chegar à Lusa a “rectificação”, afirma o CR, que assinala ainda o facto de Dulce Anahory ter contactado “diversas vezes” a agência, “quer para falar com as jornalistas autoras da notícia, quer para falar com o editor ou até mesmo com ‘um director de serviço'”.

O comunicado dá ainda conta de que a directora de informação disse desconhecer a existência de “qualquer pressão”, argumentando que “ouvir todas as partes não significa “cedência””. Para Deolinda Almeida, a notícia inicialmente divulgada pecava por não ter sido ouvido o Ministério da Ciência, no estrito respeito pela regra do contraditório.

Embora concordando com o princípio, o CR da Lusa lembra que “neste caso específico a notícia poderia ter saído antes de contactado” o Ministério e classifica o trabalho levado a cabo pelas três jornalistas como “um bom exercício de jornalismo e um exemplo de investigação jornalística”. Esta posição contraria a defendida pela directora de informação, para quem as repórteres redigiram uma informação que foi “destruída por falta de acompanhamento”.

PSD quer ouvir Deolinda Almeida na AR

Entretanto, a bancada parlamentar do PSD requereu à Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias a audição, com carácter de urgência, de Deolinda Almeida.

O requerimento, assinado pelo líder parlamentar, Marques Guedes, justifica o pedido com as notícias vindas a público e considerando que “está a ocorrer na agência noticiosa Lusa um clima de intimidação e de controlo da informação em tudo inaceitável e incompaginável com um dos direitos constitucionais fundamentais – a liberdade de informação”.

No mesmo requerimento, dirigido ao presidente da Comissão, o socialista Osvaldo Castro, o líder parlamentar social-democrata refere que, “de acordo com dados agora publicamente conhecidos, tem vindo a verificar-se, com alguma insistência, uma manifesta intromissão da directora e de outros responsáveis da informação da Lusa no trabalho jornalístico produzido pelos profissionais dessa agência noticiosa”.

Segundo Marques Guedes, “dada a gravidade da situação”, o PSD solicita “com carácter de urgência a realização de uma audição com a directora de informação dessa agência noticiosa, a fim de o Parlamento poder averiguar a verdadeira amplitude da situação que está a ser vivida no seio daquela redacção integrada por cerca de 200 jornalistas”.

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