As autoridades chilenas têm procurado abafar a cobertura de problemas ambientais, como demonstram a detenção da fotógrafa Marcela Rodríguez a 13 de Maio ou a recusa em financiar a distribuição do documentário de Elena Varela sobre uma disputa de terras entre o povo mapuche e o governo central.

Marcela Rodríguez, colaboradora do sítio Mapuexpress, foi detida e alegadamente maltratada pela polícia, que cinco minutos após o início de um protesto na cidade de Temuco, no Sul do Chile, contra planos de construção de cinco barragens na Patagónia decidiu usar a força para dispersar manifestantes.

À semelhança de mais uma dezena de pessoas, a fotógrafa enfrenta agora acusações de desordem pública, pelas quais terá de responder em tribunal a 22 de Junho, podendo vir a ser condenada a 300 dias de prisão, a que acresce uma multa caso se recuse a admitir responsabilidade pelo protesto.

Segundo a Repórteres Sem Fronteiras (RSF), a sentença que venha a ser aplicada à profissional de 29 anos ganha uma importância adicional por causa dos “perturbadores desenvolvimentos no caso da documentarista Elena Varela”, detida em 2008 por suposta associação criminosa enquanto filmava “Newen Mapuche”, um filme sobre o povo mapuche na Araucania e as suas disputas com o governo.

A documentarista acabou por ser ilibada a 22 de Abril de 2010, mas a censura à sua obra e a trabalhos similares é evidente: duas equipas de filmagem estrangeiras que também queriam cobrir a questão mapuche na Araucania foram deportadas do Chile mais ou menos na mesma altura; e a agência estatal que promove a produção cinematográfica recusou-se a apoiar a distribuição nacional e internacional do filme alegando que este “poderia prejudicar a imagem do país”.

“Este é um caso evidente de censura política”, afirmou a Associação de Documentaristas Chilenos em carta enviada a 12 de Maio ao vice-presidente executivo da referida agência estatal, Hernán Cheyre, e ao ministro da Cultura, Luciano Cruz-Coke.

A RSF sublinha ainda que “a recusa em apoiar este filme confirma a existência continuada de um tabu que já devia ter acabado no Chile. O documentário de Varela levanta uma questão de verdadeiro interesse público, tanto nacional como internacionalmente. Para bem do debate público e da liberdade de expressão e de informação, “Newen Mapuche” deveria ter uma distribuição normal.”