Os ataques continuados à BBC provocados pelo relatório Hutton podem minar os esforços de criação de sistemas de serviço público genuíno noutros países, alertou a Federação Internacional de Jornalistas (FIJ).

Para a organização, os políticos britânicos não devem usar o caso Kelly para abalar as estruturas de independência editorial que têm caracterizado a BBC ao longo dos anos, pois tal só encorajará governos de outros países a tentar manipular os serviços públicos de comunicação.

A organização relembra que a reputação de cobertura noticiosa independente da estação britânica serve de modelo para estações públicas de vários países, especialmente na Europa de Leste e na ex-União Soviética, regiões onde não ocorreu uma transição para um serviço público genuíno, dado que os governos continuam a não permitir uma total independência editorial.

Por este motivo, a FIJ sugere ao governo britânico que acalme as hostilidades para com a BBC, sugerindo que estas se devem à cobertura independente que a BBC fez relativamente à guerra no Iraque.

Para a maior organização internacional de jornalistas, a revelação do cientista David Kelly como fonte das reportagens de Andrew Gilligan que acusavam o governo de exagerar o dossier de Setembro de 2002 sobre armas de destruição em massa no Iraque foi um erro do qual a BBC deve tirar as devidas lições.

A FIJ alertou ainda que “existe o perigo destes ataques provocarem uma caça às bruxas ao serviço público de televisão, numa altura em que os média privados clamam pela desregulação do mercado e o fim dos órgãos de comunicação públicos”.