Trabalhadores da Lusa em vigília recebem solidariedade

Os trabalhadores ao serviço da Agência Lusa realizaram sexta-feira uma vigília junto à residência do primeiro-ministro para reclamar a manutenção das verbas do contrato programa com o Estado e receberam a solidariedade de várias entidades e personalidades.

O secretário-geral da CGTP, Arménio Carlos, disse, durante a vigília, que os trabalhadores ao serviço da Lusa estão a defender os seus legítimos direitos, mas a sua luta é muito mais abrangente, é também em defesa do serviço público de informação.
Observou que a luta dos trabalhadores da Lusa é também pela coesão económica e social.
“Sabemos perfeitamente o trabalho e a qualidade do trabalho que fazem e a importância da presença da Lusa nas diversas regiões, porque o país é muito mais do que Lisboa e Porto”, acrescentou o líder da CGTP.
Sublinhou que a austeridade traz recessão, os cortes atrás de cortes são o caminho do desastre e a via deve ser apostar no crescimento e na criação de emprego, na produção nacional para aumentar as receitas do Estado e da Segurança Social.
Vítor Coelho, do Secretariado Executivo da UGT, manifestou solidariedade com a luta dos trabalhadores da Lusa e recordou que o SITESE representa trabalhadores da Agência.
Vítor Coelho exortou os trabalhadores da agência noticiosa nacional a continuarem a luta, a não desistirem.

Deputados do PCP e do BE presentes
O deputado Bruno Dias salientou o apoio do grupo parlamentar do Partido Comunista Português (PCP) ao serviço público da Lusa, que é um pilar da democracia, apoio que se traduz em propostas concretas.
Indicou que o PCP propôs em sede de Orçamento de Estado para 2013 um reforço das verbas para a Lusa, que significa que a agência teria em 2013 verbas do contrato programa idênticas às de 2012 para garantir a continuidade do seu serviço público.
Bruno Dias destacou o papel da Lusa na coesão nacional e considerou a sua presença de Norte a Sul do país como fundamental para a liberdade de informação e a qualidade da democracia.
O deputado comunista considerou que o «trabalho magnífico» da Lusa, que toda a gente reconhece, tem de se traduzir no Orçamento de Estado.
Catarina Martins, co-líder e deputada do Bloco de Esquerda (BE), esteve presente na vigília e deixou uma mensagem na qual pergunta “como não lutar se é nestes momentos que a luta faz toda a diferença”.
“A Lusa, voz do país, está a fazer o que tem de ser feito”, disse. Aconselhou a não desistir e “fazer a luta quando mais é necessário”, garantindo a solidariedade do BE.

Trabalhadores da Cultura solidários
O cantor e actor Carlos Mendes, presente na vigília, garantiu que os trabalhadores da cultura estão solidários com a luta da Lusa, acrescentando sentir pessoalmente o dever de apoiar essa luta.
Carlos Mendes recordou que a revolução do 25 de Abril foi feita também com os artistas e considerou que a situação de hoje “está cada vez mais parecida com esses tempos”.
O professor do ISCTE José Rebelo, antigo jornalista e membro do Conselho de Opinião da RTP, afirmou que a tentativa de estrangulamento da Lusa “representa um crime para a democracia”.
José Rebelo destacou que em qualquer país existem agências de notícias de âmbito nacional e internacional e considerou a Lusa fundamental para o funcionamento dos jornais, rádios e canais de televisão.
Aquele professor do ISCTE sustentou que a agência noticiosa de serviço público é indispensável à existência do Estado enquanto Estado soberano e em Portugal essa necessidade ainda é maior numa situação em que “nos roubam a possibilidade de contribuir para a resolução dos problemas do quotidiano”.
Apontou o desinvestimento grave nas redacções dos jornais, rádios e televisões, fruto de uma visão mercantilista.
Para José Rebelo, a luta em defesa da Lusa é uma luta pelo direito a informar e a ser informado e contra uma globalização que põe em causa a informação local, regional e nacional.

Trabalhadores da RTP solidários
António Louçã, da Comissão de Trabalhadores da RTP, assinalou que nos quatro dias de greve da Lusa bastava olhar para a paisagem mediática do país para ver como tudo era diferente por faltar a Lusa.
Disse que a Lusa é essencial também para o trabalho que a RTP faz todos os dias.
“A nossa profissão e trabalho aproximam-nos e a luta aproxima-nos ainda mais”, observou, garantindo que a RTP estará sempre presente nas lutas da agência.
Afirmou que esta é também uma luta política, porque dela depende o futuro das liberdades que conquistamos.

Pilar del Río envia mensagem
Pilar del Río, jornalista espanhola, viúva do Nobel da Literatura português José Saramago e presidente da Fundação Saramago, enviou uma mensagem à vigília, na qual afirma que uma democracia robusta, política, económica, social e cultural, precisa de uma jornalismo sólido e vigilante.
Aquela jornalista defendeu que as agências de notícias têm características especiais e que ver uma notícia de agência era uma garantia de informação não contaminada por empresas e poderes políticos, criticando que queiram fazer desaparecer agências noticiosas e convertê-las em instrumentos.
Para Pilar del Río, a garantia de saúde democrática passa pela existência de media públicos, de propriedade pública, porque “o dono a quem servem” é a sociedade plural, que necessita de informação.
“Há que salvar a agência Lusa ou teremos perdido um testemunho que conta e que nestes tempos deveria crescer porque necessitamos dele”, conclui a mensagem.

Documento para primeiro-ministro
No início da vigília, representantes dos trabalhadores da Lusa entregaram no gabinete do primeiro-ministro um documento em que manifestam a sua preocupação com a fragilização da democracia e da coesão nacional, que resultará da redução das verbas do contrato programa do Estado com a Lusa, prevista na Proposta de Lei de OE 2013.
Os trabalhadores defendem que o corte de verbas para o serviço público da Lusa irá fragilizar a democracia e a coesão nacionais, silenciar o que se passa em grande parte de regiões rurais e interiores de Portugal, enfraquecer a ligação entre o país e as comunidades portuguesas na diáspora, e tornar mais pobre a comunicação social portuguesa, a quem fornece uma informação ímpar sobre Portugal, sobre as comunidades portuguesas e sobre todo o mundo que fala português.
O documento foi acompanhado com um dossier contendo declarações sobre a Lusa de diversas personalidades, incluindo da área política da coligação governamental.

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