“Esta não é uma luta contra a IA, mas uma luta por um jornalismo ético”, a posição da FEJ sobre Inteligência Artificial e o futuro do jornalismo

A Federação Europeia de Jornalistas (FEJ) publicou um documento em que se posiciona em relação à Inteligência Artificial e ao futuro do jornalismo na Europa, após a sua adoção pelo Comité Executivo da federação, em Bruxelas, no passado dia 30 de setembro.

A disseminação da IA afeta profundamente as práticas jornalísticas até agora utilizadas nas redações. A IA pode apoiar o trabalho dos jornalistas, ajudando na tradução e na verificação de factos, o que constitui uma ferramenta importante de supervisão da própria IA. No entanto, pode também ser usada de forma maliciosa para gerar desinformação ou favorecer um número restrito de fontes, prejudicando assim o pluralismo dos meios de comunicação e a integridade da informação.

O uso da IA no jornalismo deve basear-se numa abordagem centrada nas pessoas, garantindo que os sistemas não substituem a supervisão humana. A FEJ defende um futuro em que a IA respeite as normas éticas do jornalismo, condições de trabalho justas e a proteção dos direitos de autor.

A federação europeia destaca seis pontos principais, sublinhando a importância de uma utilização ética da IA:

  1. O controlo editorial humano continua a ser essencial. Os empregadores e trabalhadores dos meios de comunicação devem definir as condições em que a IA é utilizada na produção noticiosa e proibir a criação de conteúdos sem revisão humana;
  2. O trabalho dos jornalistas deve ser protegido. Os jornalistas devem dar o seu consentimento expresso para que o seu trabalho seja utilizado na elaboração de sistemas de IA, devem receber créditos por isso e ainda uma remuneração proporcional;
  3. A transparência é inegociável – tanto para o público como para os jornalistas. O conteúdo gerado por IA deve ser claramente identificado e rotulado;
  4. Acesso equitativo e formação contínua para todos os jornalistas. Os investimentos em ferramentas de IA para as redações devem beneficiar todos os profissionais, incluindo os jornalistas locais e freelancers;
  5. A ética deve orientar o uso da IA no jornalismo. A utilização da IA nas redações deve respeitar os princípios fundamentais do jornalismo, como a
    verdade, a imparcialidade, a responsabilidade e a proteção das fontes;
  6. As organizações de jornalistas devem participar na governação do futuro da IA. Através do diálogo social, as organizações de jornalistas devem continuar a ser participantes ativas no desenvolvimento de sistemas de IA que afetam a informação de interesse público.

“Hoje estamos num ponto de viragem: a IA tanto pode empoderar os jornalistas como minar os próprios alicerces da liberdade de imprensa. Para alcançar o primeiro cenário, precisamos de uma IA construída sobre bases éticas sólidas, orientada por regulamentação clara e comprometida com a transparência em todos os meios de comunicação europeus. Se for deixada sem controlo, os danos para o jornalismo poderão ser irreversíveis. Esta não é uma luta contra a IA, mas uma luta por um jornalismo ético”, revelou Maja Sever, presidente da FEJ.

Pode consultar aqui o documento na íntegra em inglês e em francês.

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