A justiça iraniana afirmou, a 28 de Julho, que a morte da jornalista iraniana-canadiana Zahra Kazemi, ocorrida quando se encontrava detida, poderá ter sido um “acidente”. Em Teerão, os jornalistas iranianos manifestaram-se contra a suspensão de dois jornais e denunciaram, mais uma vez, perseguições das autoridades.
“A única pessoa que foi acusada da morte de Zahra Kazemi está inocente, restando apenas uma possibilidade”, a de se ter registado um “acidente”, indica um comunicado judicial citado pela edição on-line do “Público”.
O documento especula com a hipótese de “a descida da taxa de açúcar no sangue, ligada à sua greve de fome” ter levado a que a jornalista “se tenha ferido ao cair”. A repórter morreu de hemorragia cerebral.
O tribunal ilibou o principal suspeito, Muhammad Reza Aghdam Ahmadi, agente dos serviços de informação iranianos, dando como não provada a acusação de que a jornalista tinha sido intencionalmente ferida na cabeça.
O assunto foi declarado encerrado a 24 de Julho pelo Tribunal de Teerão, que rejeitou o pedido da defesa de Ahmadi, liderada pela Nobel da Paz Shirin Ebadi, para acusar um responsável judicial também presente na altura da detenção.
O Canadá já informou que vai continuar a pressionar o Irão para que seja feita justiça.
Protestos em Teerão
Entretanto, a 26 de Julho, mais de 200 jornalistas iranianos concentraram-se na sede da Associação de Jornalistas em Teerão em protesto contra a suspensão, a 17 de 18 de Julho, dos jornais reformadores “Vaghayeh ettefaghieh” e “Jomhouriat”, e contra as novas formas de pressão que as autoridades estão a usar para “depurar” a profissão.
De acordo com a Repórteres Sem Fronteiras (RSF), o procurador de Teerão, Saïd Mortazavi, instaurou uma “lista negra” que visa impedir um jornalista que tenha trabalhado num título suspenso de trabalhar noutra redacção.
Durante o protesto, em que participaram diversas individualidades como a prémio Nobel da Paz, Shirin Ebadi, e familiares de presos, foi divulgada uma carta aberta endereçada ao ministro da Cultura e da Orientação Islâmica, Ahmad Masjed Jameï, e ao ministro do Trabalho, Nasser Khaleghi, intitulada “Nós somos jornalistas”.
A carta exprime as preocupações dos signatários e sublinha que as “tentativas de privar os jornalistas de escrever contrariam os artigos 22, 28 e 43 da Constituição, o direito ao trabalho e a Declaração Universal dos Direitos do Homem”, perspectivando um “futuro sombrio” para o país.
Para além de inúmeras prisões e interrogatórios a jornalistas, nos últimos quatro anos foram encerrados 120 títulos da imprensa reformadora, afirma a RSF.