Tratamento da diversidade étnico-cultural

O CD alerta, em Recomendação divulgada hoje, 6 de Junho, para a importância de uma informação rigorosa sobre questões relacionadas com a cultura e identidade dos seus povos, no respeito que merecem todos os cidadãos, independentemente da etnia a que pertençam.

CONSELHO DEONTOLÓGICO

RECOMENDAÇÃO

Tratamento da diversidade étnico-cultural

Na sequência de uma carta enviada por um grupo de cidadãos guineenses, residentes em França, lamentando a forma “sensacionalista” como foi apresentada uma reportagem televisiva referente a uma adolescente que foi transportada da Guiné-Bissau para tratamento médico em Lisboa, da etnia Balanta, recordamos que Portugal consagra, na sua Constituição, relações privilegiadas com os países de língua portuguesa, cujos laços históricos e culturais levaram à constituição da CPLP – Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (oito estados).

O Código Deontológico dos Jornalistas Portugueses, que obedece aos princípios da Declaração Universal dos Direitos Humanos, consagra no seu artigo 8.º “O jornalista deve rejeitar o tratamento discriminatório das pessoas em função da cor, raça, credos, nacionalidades ou sexo”.

Alegam os referidos cidadãos no documento, a partir de Paris, que os jornalistas particularizaram a etnia Balanta como sendo um povo guerreiro ou valente, clarificando que o povo guineense não é guerreiro porque nunca quis a guerra e que todo o povo “é valente”. Referindo-se à revolta militar de 1998, acentua: “foi militar e não étnica”, e, tal acção, foi “uma instigação vinda do exterior que mergulhou a Guiné-Bissau em 9 meses de guerra”.

A carta rejeita a alegada forma “hollywodesca” como são abordadas por alguns jornalistas intrigas políticas e guerras sangrentas, violação dos direitos humanos.

Críticas deste género são recorrentes em Portugal, idênticas ao que se passa noutros países e são geralmente suscitadas a propósito de interpretações subjectivas ou estereótipos antigos que são reproduzidos sem a devida análise e rigor exigíveis (vide, em Portugal, caso “Arrastão de Carcavelos”).

Em países como a Grã-Bretanha e a França este tipo de questões há muito vêm sendo tratadas e sobre as quais já existe vasta doutrina sobre a cobertura jornalística mais adequada.

Por serem repetidos, a União Europeia apoiou a elaboração de um “Manual da Diversidade” para os jornalistas (London, October 2002 A Media Diversity Institute publication – Reporting Diversity Manual) ouhttp://www.media-diversity.org/PDFS/Reporting%20Diversity%20Manual.pdf)

O documento lembra que no cumprimento das regras emanadas na resolução número 2, aprovada no 7.º Conselho Europeu sobre a Diversidade Cultural e o pluralismo nos órgãos de Comunicação Social na era da Globalização, realizado em Março de 2005 “os jornalistas devem, através do seu trabalho, promover a coesão social e integração das comunidades e gerações”.

Também em Portugal, onde o aumento do movimento migratório tem sido gerador de novos comportamentos sociais, foi editado este ano o livro “Do Não Racismo aos Dois Racismos dos Portugueses”, da Faculdade de Economia, apoiado pelo Alto Comissário para a Imigração e Diálogo entre Culturas (ACIDI), obra que traz contributos importantes para uma boa informação.

Nesse sentido, o CD alerta para importância de uma informação rigorosa sobre questões relacionadas com a cultura e identidade dos seus povos, no respeito que merecem todos os cidadãos, independentemente da etnia a que pertençam.

O CD recomenda que os jornalistas não tratem as etnias ou minorias populacionais como se fossem monolíticas, mas sim inseridas numa comunidade, pois isso pode causar exacerbações de outros que são preteridos.

Do mesmo modo, não devem os jornalistas deixar-se motivar pelos sentimentos de grupos sociais que eventualmente utilizem expressões ofensivas quando discutem os problemas com as populações minoritárias. Se necessário, devem parafrasear essas ofensas com a menção de que as respectivas comunidades as consideram insultuosas e provocatórias.

O CD alerta que no tratamento destas diversidades se devem ouvir também pessoas idóneas, representativas das comunidades, a fim de se obter uma informação esclarecida.

A utilização de frases como: “toda a gente sabe que…” ou “é evidente que…” podem fazer à partida juízos prévios limitadores à recolha de uma boa informação. O bom senso e a utilização de uma linguagem correcta ajudam a “quebrar muros” e a “romper barreiras”.

O Conselho Deontológico recomenda, de acordo com a doutrina europeia e os princípios universais, que os jornalistas, na elaboração do seu trabalho, utilizem cinco palavras – chave, para aferir da melhor cobertura de acontecimentos que envolvam qualquer vertente da diversidade e que tornem a informação credível e respeitada: Quem falta na história; Qual é o foco no contexto da história; Onde podem obter mais informação; Quando devem utilizar a identificação racial ou étnica e; Porque inclui ou exclui certas informações.

Lisboa, 6 de Junho de 2008

O Conselho Deontológico do Sindicato dos Jornalistas

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