SJ exorta RTP para tomada de posição pública sobre a participação de Israel no Festival Eurovisão

A Direção do Sindicato dos Jornalistas (SJ) escreveu ao Conselho de Administração da RTP exortando a emissora pública a tomar uma posição pública em relação à participação de Israel no Festival Eurovisão da Canção.

O SJ manifestou sua profunda preocupação com a participação de Israel em decorrência da tragédia humanitária que continua a acontecer na Palestina. Eventos de caráter cultural como a Eurovisão não podem ser tratados como se fossem politicamente neutros, especialmente quando o mesmo festival, em 2022, decidiu por excluir a Rússia da competição devido à invasão da Ucrânia.

É possível ler a carta na íntegra enviada pelo SJ ao Conselho de Administração da RTP abaixo.

 

Exmo. Senhor

Nicolau Santos

Presidente do Conselho de Administração da RTP,

A Direção do Sindicato dos Jornalistas escreve-lhe a manifestar profunda preocupação relativamente à participação de Israel no Festival Eurovisão da Canção de 2026, apelando a que a RTP assuma uma posição pública firme no sentido da exclusão israelita deste evento.

É impossível ignorar a dimensão da tragédia humanitária que decorre na Palestina. O número de civis mortos aumenta diariamente e a situação configura, aos olhos de organizações internacionais, um cenário de genocídio. A esta realidade acresce um dado particularmente grave para todos nós jornalistas: centenas de profissionais da Comunicação Social foram mortos em Gaza. Além disso, Israel continua a impedir a entrada de jornalistas internacionais na Faixa de Gaza, numa clara violação do direito à Informação.

Eventos de caráter cultural como a Eurovisão não podem ser tratados como se fossem politicamente neutros. Pelo contrário, são usados por governos para projetar uma imagem de normalidade e prestígio internacional, mesmo quando, em simultâneo, praticam crimes contra populações civis. Manter Israel no Festival Eurovisão da Canção é permitir que a cultura seja usada como instrumento de branqueamento de um governo responsável por graves violações dos direitos humanos.

Não podemos esquecer o precedente da Rússia em 2022, excluída do concurso em consequência da invasão da Ucrânia. Entendemos que o mesmo princípio deve agora aplicar-se a Israel. Se houve coragem para sancionar Moscovo, é incoerente não fazer o mesmo com Telavive, quando as violações dos direitos humanos estão amplamente documentadas e reconhecidas pela comunidade internacional.

Por estas razões, o Sindicato dos Jornalistas exorta a RTP a assumir uma posição pública clara, e a única a ter neste momento: não participar no Festival Eurovisão da Canção caso Israel continue autorizado a concorrer. Essa posição, defendida e assumida por congéneres europeias, poderá ter impacto determinante na União Europeia de Radiodifusão, que apenas reage perante pressão conjunta.

Estamos convictos de que esta é a única atitude coerente com os princípios de defesa da vida, da Liberdade de Imprensa e dos Direitos Humanos, valores que a RTP, estamos certos, respeitar e promove, pelo que este é o momento de o mostrar ao Mundo.

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