Situação dos jornalistas em Gaza é “intolerável”

A Federação Internacional de Jornalistas (FIJ) apelou a todos os jornalistas para que protestem, pois a crise em Gaza tornou-se “intolerável” e “a manipulação sistemática e controlo dos média que tentam fazer o seu trabalho em Gaza e as mortes ocorridas no território requerem uma resposta concertada da classe a nível mundial”.

Esta reacção da organização que agrega mais de 600 mil jornalistas de todo o mundo surge na sequência do assassinato do jornalista palestiniano Eyhab Al Wahidi – o quarto a falecer no decurso da acção militar recente na Faixa de Gaza, segundo a FIJ – e do bombardeamento da Torre Al-Johara, onde estão instalados cerca de 20 órgãos de comunicação.

Eyhab Al Wahidi, operador de câmara da estação pública palestiniana em Gaza, morreu a 8 de Janeiro, aquando de raide israelita ao bairro onde vivia e que vitimou também a sua mulher e um dos pais desta, tendo provocado ferimentos nos filhos do casal. No dia seguinte faleceu Ala Mortaji, repórter de uma rádio local, na sequência de ferimentos sofridos durante o ataque de um tanque israelita ao bairro de Zaitoun.

O ataque da Força Aérea israelita à Torre Al-Johara, levado a cabo a 9 de Janeiro, feriu um jornalista e destruiu o equipamento de transmissão via satélite que se encontrava no telhado, tendo o porta-voz do governo israelita, Mark Regev, referido que a acção militar contra o edifício visou anular equipamento de comunicações que poderia vir a ser usado pelo Hamas.

“Este ataque confirma o receio de que os média em Gaza se estejam a tornar alvos das forças israelitas. É tempo de a comunidade internacional condenar estes ataques e garantir que qualquer acordo que acabe com as hostilidades também coloque os jornalistas fora da linha de fogo”, afirmou o secretário-geral da FIJ, Aidan White.

Também o Sindicato de Jornalistas da Palestina e o Comité para a Protecção dos Jornalistas (CPJ) protestaram contra o bombardeamento, considerando “inaceitável que jornalistas em serviço e as suas redacções sejam atacados desta maneira”, até porque “os jornalistas gozam de protecção ao abrigo da lei internacional”.

O mesmo recordou a ONU, em carta enviada ao embaixador de Israel junto da organização, tendo o secretário-geral Ban Ki-Moon apelado ao fim imediato dos confrontos em Gaza por forma a garantir o acesso humanitário à região, para assim ajudar o milhão e meio de civis que tenta sobreviver apesar do rápido deteriorar das condições de vida no território.

Condicionar a comunicação social

Também a 8 de Janeiro, dois canais israelitas e a BBC foram autorizados a acompanhar brevemente tropas do estado judaico, mas não há indícios de que o governo venha a permitir o acesso livre de jornalistas a Gaza, apesar das deliberações nesse sentido do Supremo Tribunal e das exigências nesse sentido das várias organizações de defesa da liberdade de imprensa.

Segundo a FIJ, as preocupações com a segurança dos jornalistas são legítimas, mas não devem servir de desculpa para impedir que estes façam o seu trabalho, pois quando um lado controla a mensagem a tentativa de relatar a verdade acaba submersa pela propaganda.

“Há uma tentativa cínica de garantir que os média contem a história apenas a partir do lado israelita. A verdade não poderá ser contada a menos que os jornalistas se possam mover livremente, falar com todos os envolvidos e ver com os seus olhos o que acontece no terreno”, disse Aidan White, criticando a sofisticada operação de comunicação de Israel, que fornece aos jornalistas contactos, estatísticas, viagens pelo Sul de Israel e entrevistas com vítimas israelitas de rockets atirados a partir de Gaza.

Jornalistas atingidos em manifestações

Nos vários protestos que têm ocorrido contra o conflito um pouco por todo o mundo há a registar três casos de jornalistas feridos.

Em Qualqilia, na Margem Ocidental, o operador de câmara Khalil Riash, ao serviço da agência noticiosa palestiniana Ma’an, foi atingido a tiro na perna esquerda por tropas israelitas enquanto cobria um protesto pacífico.

Ao lado, na Jordânia, o correspondente da Al-Jazeera em Amã, Yasser Abou Hlaleh, teve a sua câmara e telemóvel confiscados e foi agredido pela polícia durante confrontos entre as autoridades e um grande grupo de manifestantes que foram impedidos de marchar até à embaixada de Israel, em protesto pela ofensiva contra Gaza.

Por fim, em Argel, durante uma manifestação pró-palestiniana, o repórter Hocine Ben Rabie sofreu ferimentos graves na cabeça, encontrando-se hospitalizado em estado crítico.

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