Situação difícil para os jornalistas em Aceh

O jornalista William Nessen foi libertado em Aceh, onde os jornalistas continuam a enfrentar as ameaças das autoridades indonésias e dos rebeldes. Dois jornalistas, Ersa Siregar e Fery Santoro, permanecem reféns da Frente de Libertação Nacional de Aceh-Sumatra.

O norte-americano foi libertado a 3 de Agosto após ter sido condenado na véspera a um mês e dez dias de prisão, acusado de violar as leis de imigração da Indonésia. O jornalista saiu em liberdade em Banda Aceh, capital da província de Aceh, por já ter cumprido a pena que lhe foi aplicada.

A situação dos jornalistas a trabalhar em Aceh está a preocupar seriamente a Federação Internacional de Jornalistas (FIJ), que ainda no passado dia 1 de Agosto se encontrou em Bruxelas com representantes oficiais da Indonésia, justamente para apelar à libertação de William Nessen, bem como para pedir garantias de segurança, quando forem libertados, para dois outros jornalistas actualmente reféns do Movimento de Libertação de Aceh.

O caso Nessen testemunha as dificuldades que enfrentam os profissionais dos média, em especial os estrangeiros, a trabalhar na Indonésia. O jornalista do San Francisco Chronicle foi preso pelas autoridades indonésias a 24 de Junho, depois de ter estado mais de um mês na área controlada pelo Movimento de Libertação de Aceh, acompanhando do lado dos independentistas a ofensiva lançada pelas forças armadas indonésias. Ao regressar a Banda Aceh é preso e acusado de ter “violado as leis de imigração” e de ter “abusado do seu visto de jornalista”.

A lei marcial em vigor em Aceh desde 19 de Maio já proibia os jornalistas de trabalhar do lado dos rebeldes, acusados de “terrorismo”, mas a 27 de Junho as restrições foram ainda mais reforçadas, através de um decreto que na prática obriga os jornalistas a ficarem confinados nas principais cidades sem se poderem deslocar a não ser acompanhados de elementos das forças de segurança. O desrespeito destas regras implica a expulsão da província num prazo de 24 horas. Oficialmente, a medida destina-se a garantir a segurança dos jornalistas e não a impedir o seu trabalho.

Dois dias antes da libertação de Nessen, o secretário-geral da FIJ, Aidan White, criticou a intolerância manifestada pela Indonésia em relação aos jornalistas e fez notar que a confiança entre as partes é fundamental para o sucesso das negociações em curso para a libertação de Ersa Siregar e Fery Santoro, os repórteres da estação de televisão RCTI reféns do Movimento rebelde.

A FIJ informou ainda ter pedido ajuda à Cruz Vermelha Internacional para a libertação dos dois reféns, e estar a pressionar as autoridades indonésias para que se comprometam a autorizar o seu regresso a casa sem interferências.

Dizendo esperar que a crise seja “rapidamente resolvida”, Aidan White recordou a declaração conjunta que há dois anos assinou em Genebra com o presidente da Frente de Libertação Nacional de Aceh-Sumatra, Tengku Hasan M. di Tiro, em que a Frente de Libertação – o braço político do Movimento de Libertação de Aceh – se compromete a defender os direitos da imprensa e a garantir a integridade física dos jornalistas.

“A liberdade e a democracia nunca foram alcançadas ameaçando a vida dos jornalistas”, afirmou Aidan White, sublinhando que “os nossos colegas devem ser libertados e que a Frente de Libertação Nacional deve honrar as suas declarações de apoio aos princípios da liberdade de imprensa”.

A estes casos recentes há ainda a juntar a expulsão de Aceh, a 28 de Junho, do repórter fotográfico japonês, Tadatomo Takagi, o que levou a organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) a afirmar, em comunicado datada de 3 de Agosto, que “pouco a pouco, o exército indonésio impõe um «black-out» informativo sobre a situação na província de Aceh. As prisões injustificadas de jornalistas estrangeiros e a adopção de um novo decreto, que visa especificamente a imprensa internacional, mostram como os responsáveis militares temem uma informação independente distinta da que é dada pelos raros jornalistas incorporados nas tropas”.

Ainda segundo a RSF, pelo menos um jornalista foi morto desde a imposição da lei marcial em Aceh, pelo menos cinco outros foram presos, e no mínimo outros vinte e quatro foram agredidos ou visados por tiros.

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