Sindicato contra critérios de nomeação para a RAI

O sindicato italiano dos jornalistas afirma que é necessário mudar os critérios de nomeação dos responsáveis da televisão pública italiana, na sequência da crise provocada pela demissão da anterior administração e pelo processo que precedeu a nomeação dos novos administradores, ocorrida sexta-feira.

As sucessivas interferências do primeiro-ministro Silvio Berlusconi conduziram a televisão pública italiana a uma crise profunda. As demissões na administração foram o corolário de um processo onde o chefe do Governo tentou interferir na linha editorial da informação da RAI e tentou enfraquecer a estação pública, cujos três canais generalistas concorrem com os três canais privados que são propriedade da Mediaset, a “holding” de Silvio Berlusconi.

O conflito prosseguiu em torno da nomeação da nova administração pelo Senado. As escolhas recaíram num conjunto de personalidades, entre as quais o sociólogo Francesco Alberoni, cujo prestígio não é contestado pelo sindicato italiano, a Federazione Nazionale Stampe Italiana (FNSI)/Sindicato Unitario dei Giornalista Italiani. O secretário-geral da federação, Paulo Serventi Longhi considera, no entanto, que o conflito de interesses do primeiro-ministro apenas é superável através de uma mudança nos critérios de nomeação dos responsáveis da RAI.

No período anterior às nomeações, o Governo foi atacado por tentar nomear personalidades da sua confiança política e procurar transferir para Milão um dos canais, a Rai Due, satisfazendo as pretensões de Umberto Bossi, da Liga do Norte. A RAI foi ainda fortemente criticada por não ter transmitido em directo as recentes manifestações pela paz, que tiveram enorme adesão em Itália, um dos países subscritores da “Carta dos Oito”, em apoio à posição norte-americana no conflito com o Iraque.

O carácter consensual das personalidades escolhidas – Paolo Mieli (presidente), Angelo Maria Petroni, Francesco Alberoni, Giorgio Rumi e Marcello Veneziani – no final da semana mostra um recuo por parte do Governo.

“O sindicato dos jornalistas retém que foram nomeadas personalidades de indubitável prestígio e que não pertencem a partidos ou aparelhos políticos. Mas a lógica das nomeações através dos aparelhos voltou a ser avançada. Por isso, lembramos ao Governo, ao Senado e ao País a necessidade de uma reforma radical dos critérios de nomeação do Conselho de Administração da RAI, para subtraí-lo ao controlo e à intervenção directa da política”, disse Paolo Serventi Longhi.

“Esperamos que o novo conselho dê provas de independência e defenda com força o papel e a autonomia do serviço público, na delicada situação institucional actual, que é condicionada pelo conflito de interesses”, acrescentou Longhi, para quem a próxima nomeação do director-geral será um teste à independência dos novos administradores.

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