Muçulmanos entram no “negócio dos cartoons

Como forma de resposta aos cartoons de Maomé do “Jyllands-Posten”, o diário iraniano “Hamshahri” está a promover um concurso internacional de desenhos sobre o holocausto. Tema idêntico escolheu a Liga Árabe-Europeia (AEL), que decidiu “entrar no negócio dos cartoons e exercer o direito à expressão artística”, publicando diversos desenhos no seu sítio.

Em declarações à AFP, o editor gráfico do jornal, Farid Mortazavi, disse que este polémico concurso pretendia testar o quão empenhados na liberdade de expressão estão os jornais europeus.

Menos desafiadora, a AEL afirmou que “tal como os jornais da Europa alegam que apenas querem defender a liberdade de expressão e não desejam estigmatizar os muçulmanos, também queremos frisar que os nossos cartoons não pretendem ofender ninguém e não devem ser vistos como ataques a quaisquer grupos, comunidades ou factos históricos”.

Jornalistas jordanos libertados

Entretanto, os dois jornalistas jordanos que haviam sido detidos sob a acusação de “insulto à religião” já foram libertados, estando previsto o seu regresso ao tribunal ainda durante este mês.

Jihad Momani, ex-editor do semanário “Al-Shihan”, tem audiência marcada para 9 de Fevereiro, enquanto Hisham al-Khalidi, editor do “Al-Mehwar”, regressará ao tribunal a 15 de Fevereiro. Caso sejam condenados, ambos enfrentam penas que podem ir de uma multa até três meses de prisão.

Repórteres de imagem agredidos no Líbano

Ainda no Médio Oriente, mas no Líbano, protestos relativos aos cartoons no dia 5 de Fevereiro acabaram em confrontos entre muçulmanos e cristãos, sendo que, no meio da confusão, vários fotojornalistas e operadores de câmara foram agredidos ou viram o seu equipamento destruído.

Censura na África do Sul

As ondas de choque deste caso também chegaram à África do Sul, onde o Tribunal de Joanesburgo proibiu, a 3 de Fevereiro, a publicação dos desenhos de Maomé nos jornais “The Sunday Times” e “The Sunday Independent”, por considerar que o direito à dignidade dos muçulmanos era superior ao direito à liberdade de expressão.

O processo foi interposto pelo grupo muçulmano Jamiat-ul Ulama of Transvaal, que pretendeu deste modo garantir a não publicação dos desenhos nos jornais de domingo, depois do semanário “Mail and Guardian” ter publicado um dos cartoons na edição de 3 de Fevereiro, uma situação que chegou a originar ameaças de morte à editora do jornal, a muçulmana Ferial Hafferjee.

Embora afirmem que não estavam a pensar em publicar os desenhos, tanto o “The Sunday Times” como o “The Sunday Independent” pretendem contestar a proibição, devendo comparecer no tribunal a 28 de Fevereiro para tentar impedir que a restrição imposta judicialmente se torne permanente.

“Este é um assunto sensível, mas a censura de Estado não é a solução. O tribunal não tem nada que ditar o que um jornal deve publicar e o que é que os seus leitores devem ver”, afirmou Ann Cooper, directora-executiva do Comité para a Protecção dos Jornalistas (CPJ).

Água na fervura

Por fim, numa tentativa de pôr água na fervura em todo este caso, a Cartoonists Rights Network da Roménia efectuou um convite a caricaturistas muçulmanos, budistas, cristãos e de outras confissões instando-os a juntarem-se na maior exposição de caricaturas do mundo, na cidade romena de Ploiesti.

Esta exposição, que está permanentemente aberta, tem por objectivo reunir diversas caricaturas ou retratos do escritor e jornalista romeno Ion Luca Caragiale, ou da sua obra, sendo que em Outubro terá lugar um concurso com com todos os trabalhos recebidos nos 12 meses anteriores. As regras de candidatura podem ser consultadas em http://www.caricatura.ro/rule.htm

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