Jornalistas da Reuters abusados no Iraque

Dois jornalistas e um motorista da Reuters no Iraque foram vítimas de abuso sexual e de tratamento humilhante por parte das tropas dos Estados Unidos, em Janeiro, revelou a agência noticiosa.

O jornalista Ahmad Mohammad Hussein al-Badrani, o repórter de imagem Salem Ureibi e o motorista de ambos, Sattar Jabar al-Badran, foram detidos pelas tropas norte-americanas a 2 de Janeiro, perto de Fallujah, quando faziam a cobertura da queda de um helicóptero americano, tendo depois sido libertados sem formulação de acusação.

Também Ali Mohammed Hussein al-Badrani, repórter de imagem da cadeia norte-americana NBC, detido juntamente com o grupo, foi alvo de maus-tratos por parte dos soldados da coligação, que lhe colocaram malas sobre a cabeça e o pontapearam.

De acordo com a Reuters, dois dos seus empregados detidos pelas tropas foram forçados a colocar um dedo no ânus e depois a lambê-lo, e a colocar sapatos na boca. Além disso, as tropas obrigaram-nos a fazer gestos humilhantes enquanto os soldados tiravam fotografias e um dos trabalhadores receou mesmo ser violado, já que um dos elementos das tropas disse desejar ter relações sexuais com ele.

Depois de libertados, Ahmad Mohammad Hussein al-Badrani, Salem Ureibi e Sattar Jabar al-Badran contaram ainda que as tropas dos EUA no Iraque ameaçaram levá-los para Guantanamo, em Cuba, onde – como disseram os soldados – seriam privados de sono e obrigados a permanecer longos períodos em posições desconfortáveis.

Os três trabalhadores da agência Reuters asseguram que os abusos tiveram lugar na base de Volturno, perto de Fallujah, e que decidiram falar agora sobre o ocorrido porque as autoridades militares dos EUA alegam que não há provas de abuso e por terem sido tornadas públicas situações semelhantes com prisioneiros em Abu Ghraib Prison, perto de Bagdade.

Por ocasião da queda do helicóptero, as tropas no local disseram ter sido atingidas por disparos de rebeldes iraquianos e membros da imprensa, mas, mais tarde, um militar admitiu não existirem provas desta última acusação. Face a isto, não é claro se os soldados dos EUA confundiram os jornalistas com guerrilheiros iraquianos.

Embora estas revelações não fossem do domínio público, o Comité para a Protecção dos Jornalistas (CPJ) já enviara, a 21 de Janeiro, uma carta ao Tenente-General Ricardo Sanchez, apelando a uma investigação sobre o sucedido com os jornalistas. Uma semana depois, no dia 28, foram enviadas para a Reuters as conclusões de uma investigação que indicavam que nenhum dos soldados inquiridos admitia ter praticado tortura física ou psicológica. Porém, do documento não constavam testemunhos de pessoas detidas.

A 18 de Maio, a agência noticiosa britânica recebeu uma carta de Ricardo Sanchez, datada de 5 de Março, na qual este afirma que as investigações foram sérias e completas, o que o CPJ – que se encontra a investigar casos similares, como o do repórter de imagem da Al-Jazeera, Suhaib al-Baz – considera uma afronta à dignidade dos jornalistas vítimas de abuso.

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